terça-feira, 28 de agosto de 2007

Personagens

Sua excelêmcia: o peão

O peão pode ser considerado o principal personagem de uma festa de rodeio. Para ele que se voltam os holofotes, é ele que está em busca dos prêmios, e é para ele que cabe a tarefa de encarar os mais ferozes animais e superar os seus próprios limites. A rotina de um peão de boiadeiro é intensa, seus dias de ficar com a família é segunda, terça e quarta, mas mesmo assim o atleta aproveita esse tempo de folga para treinar e manter sua preparação física, sempre buscando aprimorar sua resistência física. Já nos dias de rodeio, quinta a domingo, o atleta passa boa parte do tempo competindo e viajando pelas estradas.

O peão de boiadeiro vai ao rodeio em busca da consagração, e, para isso, precisa seguir algumas regras e usar uma vestimenta adequada para o evento. Caso contrário, pode ficar o tempo que quiser em cima do touro, que será desclassificado. É exigido dos competidores o uso de chapéu ou capacete, calça de couro abotoada, bota ou botina, camisa de manga comprida com o punho da mão livre abotoado, cinto, fivela e espora, sendo que esta não pode ter pontas, já que o objetivo da prova não é machucar o animal e sim fazer apenas cócegas na tentativa de melhorar seu desempenho. O colete de proteção é obrigatório na montaria em touros e opcional para as demais modalidades. Ele serve para absorver o impacto da pancada do touro, distribuindo o impacto para o resto do corpo.


Coadjuvantes Indispensáveis


O sistema de avaliação nas provas de montaria consiste em dar uma nota de zero a cem. São dois juízes que avaliam o desempenho do competidor e do animal. Cada um fica de um lado da arena para poder avaliar melhor o desempenho dos atletas e do animal. Cada juiz tem o direito a dar no máximo 50 pontos, sendo que esses são divididos, 50% da nota se da para o desempenho do peão, e os outros 50% para o desempenho do animal. A nota final é a soma da avaliação dos dois juízes.

Para avaliar bem, um juiz precisa ter precisão e rapidez. Afinal, oito segundos é o tempo que ele dispõe para julgar a prova. O ideal é que seja íntegro, imparcial, e tenha o conhecimento das regras. Tião Procópio é um dos principais juizes do Brasil. Para ele, é fundamental para o juiz já ter montado antes, ter tido uma experiência prática. “Com minha experiência como peão, sei quando o touro está dando pulos difíceis”, conta o juiz, que ainda fez cursos nos Estados Unidos para poder analisar o grau de dificuldade do animal e a técnica do animal com total eficiência.

Tião foi o primeiro peão brasileiro a fazer sucesso no exterior. É considerado principal responsável pelo desenvolvimento do rodeio em touros no Brasil. Ele empresta seu nome para o personagem principal da novela América de Glória Perez. “Ele foi inspirado na minha história, começou desde pequeno montando em bezerros, ganhou os principais rodeios do país, inclusive Barretos e tem uma sólida carreira internacional”. Tião conheceu Glória Perez no ano de 2003 e por diversas vezes se reuniu com a autora para contar um pouco das suas histórias. Para Tião, a trama não retrata fielmente a rotina e a vida dos personagens do campo. “A novela deixa muita a desejar, muitos estão insatisfeitos, ela retrata o que passa na cabeça dela”. Porém não se sente chateado, pois se trata de uma ficção e a autora tem todo o direito de escrever o que quer.
Nas provas de velocidade, o juiz apenas verifica as possíveis irregularidades, o cronômetro é quem define os vencedores.
O juíz de rodeio Tião Procópio
Além do juiz e do peão, a festa contém outros personagens, sem eles não seria possível a realização de um rodeio.

O palhaço salva-vidas é o que faz o trabalho mais arriscado entre os profissionais de um rodeio. Tanto que também são chamados de anjos da arena. Sua tarefa nada mais é do que salvar o peão de ser pisoteado pelo touro.

O palhaço precisa ter muitas habilidades, como ginga, criatividade, reflexo, pensamento rápido e principalmente coragem para enfrentar os bravos touros com cerca de mil quilos de músculos com o pensamento de destruir quem ousar cruzar o caminho deles.

Para chamar a atenção dos animais, os palhaços usam roupas coloridas e caras pintadas. Muitos deles gostam de trabalhar em dupla, como é o caso de Dinho & Dici. Os irmãos ganham a vida com esse trabalho e se sentem muito realizados com isso. “Vivemos desta profissão e temos muito orgulho dela, pois não teria jeito mais honesto e prazeroso de ganhar o dinheiro para o nosso sustento do que ajudando as pessoas. Agradecemos a Deus por tudo”.

Dinho & Dici acreditam muito em Deus, visto que a profissão já os fizeram sofrer graves contusões. Dinho já sofreu um corte na cabeça, onde teve que tomar 20 pontos, além de pisão nas costas, distensão na coxa e corte no tendão da perna. Em um dos inúmeros pisões tomados, Dici foi parar no hospital com sangramento interno, onde era comum urinar sangue puro, e também já tomou chifrada no rosto, além de inúmeras distensões e pancadas.

“Graças a Deus da tudo certo. Deus sempre manda os anjos para por a mão entre nós e os touros, é que às vezes temos que saber do que o touro é capaz para que jamais deixamos de respeitá-los” diz. Apesar de tantas contusões, Dinho & Dici não sentem raiva dos animais, ao contrário, os adoram “Amamos os touros, pois é por meio deles que podemos ganhar a nossa vida. Jamais iríamos fazer qualquer coisa para machucá-los”. Os palhaços são conscientes que esses animais que amam a qualquer momento podem tirar-lhes a vida.
Além de trabalharem em diversos estados do país, Dinho & Dici fizeram também carreira internacional, sendo os primeiros palhaços salva-vidas a trabalharem nos Estados Unidos e inclusive são credenciados da PRCA (Professional Rodeo Cowboy Association) a maior e mais antiga associação do mundo. Começaram a carreira no ano de 1995, e com tanto tempo de experiência, acham normal o fato de ficar frente a frente com o animal. Apesar de existir uma certa adrenalina, sempre entram na arena preparados fisicamente e psicologicamente para isso.
Eles nos disseram que o momento mais difícil que existe para um palhaço é quando o peão fica com mão presa na corda americana. Nesse caso, têm que empaletar (abraçar) o touro para desamarrar a mão do atleta. “É um momento que o salva-vidas tem que ser muito frio, calculista e ter muita coragem, sabendo a hora certa de empaletar o touro, se não ele se machuca e não ajuda o cowboy”.

Além de Dinho e Dici, outros palhaços também se destacam no mundo dos rodeios, Django e Meio Quilo foram os pioneiros dessa profissão no Brasil. Outros nomes também merecem destaque como Ronan Felipe, Pirilampo e Topa Tudo.
Dinho & Dici em ação

Uma função indispensável no mundo dos rodeios é a do madrinheiro. Montado a cavalo, é ele quem retira o cowboy do dorso dos animais após a prova, colocando-os com segurança no chão da arena, além de levar o touro de volta para o curral. Já a função do sedenheiro é puxar o sedém (tira de couro) antes de cada prova. É um trabalho que exige experiência e conhecimento do comportamento de cada animal.

O sonoplasta, uma espécie de DJ do rodeio, precisa animar o povo. Ele tem que soltar a música correta na hora certa, de acordo com o andamento do rodeio, e precisa ter grande afinidade com o locutor. “Meu trabalho nada mais é que intercalar música com a voz do locutor, um suporte pra ele”, conta Paulo Leandro Soldera, conhecido como Lessauro. O sonoplasta já participou de mais de 50 rodeios, tendo trabalhado com 35 locutores diferentes.

Atualmente, Lessauro faz parte da equipe do locutor Almir Cambra, considerado o locutor mais técnico da atualidade. Ele diz que é muito fácil animar a galera com músicas como “Erguei as Mãos”, do Padre Marcelo e “Festa no Apê”, do Latino, mas prefere tocar músicas clássicas de qualidade. “É mais gratificante você fazer alguém cantar uma música do Creedence, por exemplo”. Para ele, o segredo é saber usar as músicas no momento certo. “Rodeio em touro toco rock ou pop, e dance, por ser radical. Já no rodeio em cavalo procuro não fugir das raízes e toco sertanejo por ser uma modalidade brasileira”.

O locutor é responsável por transmitir o rodeio para o público. No entanto, diferentemente de uma partida de futebol, além de narrar as provas é preciso interagir com o público, não deixando a festa esfriar, precisa também saber as regras de montarias para fazer seus comentários técnicos, já que muitos dos que prestigiam o evento não têm um bom conhecimento das provas.
Existem muitos locutores que fazem enorme sucesso, chegando até a ficar mais famosos que os peões, casos de Marco Brasil e Gleydson Rodrigues. Além é claro, de Almir Cambra, considerado o mais técnico do rodeio na atualidade, tal rótulo se da justamente pelo fato dele conhecer todas as regras do esporte. Almir, que já narrou Barretos dez vezes, nasceu e foi criado na roça. Desde pequeno, gostava do esporte e vivia imitando o Zé do Prato, locutor mais famoso na época em que ele era criança, e que imortalizou a célebre frase “Segura Peão”.

Ao ingressar em uma faculdade em Jaboticabal, Almir começou a narrar rodeios universitários e, aos poucos, foi construindo sua sólida carreira. “O locutor tem de sempre estar feliz. Todos os dias você tem que sorrir e emocionar, mesmo que não esteja a fim, já que o povo está lá para se divertir”, conta o narrador oficial de Barretos.

Almir também revelou que um dos momentos mais engraçados que narrou foi quando um americano desafiou o Brasil, dizendo no microfone que por aqui não tinha touro que o derrubasse. Ao ver o peão cair, Almir inflamou o público ao dizer, “aqui não gringão, aqui é o Brasilzão”. A arquibanda veio abaixo de tanto delírio. Todo locutor que se preze, precisa ter também um bom arsenal de versinhos e piadas. Muitos desses profissionais gostam de narrar o rodeio dentro da arena, passando mais emoção para o público.
Almir Cambra narrando o rodeio de Barretos

O comentarista é quem transmite as informações esclarecedoras sobre cada apresentação e também passa uma noção técnica para o público poder entender o que se passa na arena.
O tropeiro é quem compra, cria e fornece os animais para o rodeio. É preciso competência por parte deles para saber se o animal pode participar de um rodeio. “De cem touros que monto, só quatro servem para competir”, diz o tropeiro Flávio Junqueira. Alguns tropeiros, entre eles Junqueira, além de comprar animais puladores gostam de produzir seus próprios animais, fazendo isso por meio do cruzamento de touros puladores aposentados com vacas normais.
Atualmente o homem que mais investe em touros no Brasil se chama Paulo Emílio e possui uma companhia de rodeios com o seu próprio nome. Paulo Emílio tem cerca de 200 touros em sua fazenda, muitos estão entre os melhores do Brasil.

O berranteiro tem a função de tocar o berrante, que é o símbolo de toque da boiada. Por fim, há os médicos e veterinários que cuidam da saúde do animal.

Existem também as apresentações que fazem a alegria do público, como caminhonete e motos levantando poeira na arena e claro a rainha do rodeio que empresta todo seu brilho e seu charme para embelezar o evento, ajudar na divulgação e deixar os marmanjos babando.
Para a criançada que está começando no meio, os organizadores das festas promovem a montaria em carneiros e abre espaço para narradores mirins poderem mostrar seu talento.

Um comentário:

Unknown disse...

tai uma pessoa que descreveu o rodeio brasileiro, é isso ai cawboy todas profição tem um risco né? e quem não gosta de rodeio vai toma no rabo.