terça-feira, 28 de agosto de 2007

Barretesão - 2007 - Rodeio em Touros

Um sonho real


Virou rotina. O último dia da Festa do Peão de Barretos sempre reserva as maiores emoções do evento. É o dia em que alguém irá se consagrar e uma história vai nascer para ser lembrada para o resto da vida. Todas as 40 mil pessoas que lotaram o Estádio de Barretos no Parque do Peão sabem do que estou falando. O dia 26 de agosto de 2007 será lembrado para sempre como um conto de fadas tendo como personagem principal o peão João Paulo Sales.

A história dele como todo começo, tem que ser sofrida. O jovem peão, de apenas 22 anos, já tinha disputado uma final de Barretos, foi no ano de 2006. O vice-campeonato no ano passado pode ser considerado uma vitória, mas conhecendo os esportistas em geral (incluindo os peões), sabemos que o segundo lugar é o primeiro dos derrotados.

João Paulo tem em seu currículo o título do Rodeio de Americana, um dos mais importantes de São Paulo. O atleta vinha competindo pela PBR Brasil e vinha obtendo bons resultados no ano, porém uma vitória em Barretos era inesperada.

Mas 2007 se mostrou um ano iluminado para nosso herói. Sabe quando tudo dá certo, não só no esporte, mas na vida amorosa inclusive. João Paulo, apesar da idade, é um homem casado e em setembro ganhará uma filha. Esse já seria o maior de seus presentes.

Mas Deus estava do lado desse peão de Araras, interior de São Paulo. Na disputa do qualify, João Paulo competiu com 70 peões na tentativa de obter uma das 15 vagas para o Rodeio Internacional de Barretos, sonho de qualquer atleta. Foi fácil! Com a segunda colocação, ele entrou na lista dos 52 peões que iriam para a disputa. Sendo 12 deles estrangeiros, de 8 países diferentes, o que mostra a importância do evento.

Nervosismo, concentração, coragem, é tudo que o peão sente antes de montar no animal. Mas João Paulo parecia estar fora desse mundo. A tranqüilidade pairava sobre o jovem que logo na primeira noite do evento já mostrou ao que veio. Montou no touro Atrevido e fez 92 pontos, a maior nota do Barretão e que mais tarde seria decisiva em sua conquista. Dois dias se passaram e mais dois animais foram domados, Alcapone por duas vezes e Cara Branca. João Paulo estava na final do Rodeio Internacional de Barretos.

A final sempre é disputada aos domingos. O último dia do evento reúne os 10 melhores competidores. Entre eles, estava o experiente Fabiano Vieira, o peão paranaense já havia se consagrado em Barretos com o título de 2004, sendo também vice-campeão no ano seguinte. Os outros 9 atletas buscavam o tão sonhado título inédito e a tão sonhada fama e consagração.

Na montaria de touros vence quem tem mais técnica, equilíbrio e estilo. O esporte é radical e isso faz a torcida vibrar. 70 kg dos competidores contra 900 kg dos touros. Os 10 peões enfrentam os 10 melhores touros do país, é um espetáculo de arrepiar. Os animais levaram a melhor sobre a maioria dos atletas, mas um deles estava destinado ao sucesso.

Elton José de Souza esteve muito perto da conquista. Com 88 pontos sobre o touro Delegado ele assumiu a liderança do Barretão e caso João Paulo não parasse em cima do animal, o peão de Pompéia conquistaria o tão sonhado caneco.

A batalha valeu a pena para o ararense João Paulo de Oliveira. Na final, fez o que precisava: agüentou por 8 segundos a fúria de Bordacius e quando a sirene tocou, ele garantiu o título de Barretos 2007 com apenas 22 anos. Foi o sexto peão seguido a vencer o Rodeio Internacional vindo do qualify. A conquista lhe garantiu um cheque no valor de 60 mil reais e a fama. Mas tenho certeza que tudo que o atleta queria no momento era correr para o abraço de sua esposa e acompanhar o nascimento de sua filha. Tudo deu certo para ele. Passada as emoções, acredito que João Paulo Sales será um nome forte internacionalmente e que brilhará nas arenas norte-americanas. É só continuar seguindo esse caminho da luz.



João Paulo Sales, o grande campeão do Rodeio Internacional de Barretos

PBR

Etapa de Chihuahua - MEX

A vitória foi brasileira na etapa de Chihuahua no México. Guilherme Marchi não deu chance nenhuma a seus adversários. com o resultado Sabonete sobe para a terceira colocação na classificação geral da PBR, se aproximando mais dos líderes.

A PBR vem ganhando muito espaço em outros países, no Brasil por exemplo temos etapas internacionais, onde o campeão brasileiro ganha vaga para a disputa da grande final em Las Vegas. Essa do México faz parte do calendário principal, onde competem os melhores peões. Quem sabe um dia teremos uma etapa da PBR em terras brasileiras.
Guilherme Marchi foi soberano, o peão de Leme passou pelos quatro touros que montou, somando um total de 345,50 pontos. O peão brasileiro só foi ameaçado por Dustin Hall que conseguiu se manter no lombo do touro no shot go. Em seguida, Marchi encarou o touro Gnash, o mesmo que já havia derrubado e causado a contusão no ombro esquerdo do atual líder da PBR, Justin McBride. O norte-americano irá fazer uma radiografia para saber a gravidade de sua lesão.
Sabonete foi impecável, se manteve os oito segundos em cima do bravo touro e com a nota de 87,25 venceu a etapa de Chihuahua, embolsando um cheque de 53 mil e 254 dólares. Dustin Hall foi o segundo, seguido por Harve Stewart. Renato Nunes obteve uma boa sexta colocação.
Como Justin McBride não obteve pontuação nenhuma nessa etapa, a diferença de pontos que o americano conquistou ao longo do campeonato diminuiu bastante. O rookie do ano de 2006 J. B. Mauney é quem mais tem condições de evitar o bi-campeonato de McBride. Guilherme Marchi que por duas vezes já foi vice-campeão mundial ainda tem uma boa diferença para descontar. Teremos mais seis etapas antes da grande final em Las Vegas. A próxima será em Reno nos dias 8 e 9 de setembro. Muita emoção ainda pode rolar!

Guilherme Marchi, o grande campeão da etapa de Chihuahua

O mais temido

Alto, robusto, forte, não estamos falando de nenhum ator global como Murilo Benício. Estes são atributos do touro mais famoso do Brasil que é sucesso e arrasa multidões por onde passa.Trata-se do touro Bandido. Ele tem a cara branca, o corpo marrom e os olhos negros, quando encara alguém ou algum outro animal ele costuma raspar sua pata no chão, nesse caso é melhor sair de perto dele, já que o touro pesa cerca de uma tonelada.
Esse touro tem uma história muito curiosa. Nasceu em uma fazendo no interior de Goiás, escapou por pouco do frigorífico, pois perceberam que não se tratava de um touro qualquer e sim de um touro pulador, próprio para rodeios. Bandido chegou às mãos de Paulo Emílio junto com outros nove touros, pelo valor de 100 mil reais. Passou a morar na fazenda Santa Martha, em Icém, interior paulista.

Paulo Emílio na telinha da Globo

Bandido desfruta de um tratamento digno de um rei. Tem manicures, personal trainner, nutricionista, veterinário, recebe alimentação especial e transporte exclusivo, além de sua piscina particular. Os outros touros podem até ficar com inveja, mas nenhum deles arrisca a cruzar o seu caminho. “Quando chegou aqui, foi colocado junto com outros sete touros. Venceu cada um deles em uma disputa de cabeçadas” diz Maycon Justino, peão e tratador dos animais da fazenda do Paulo Emílio em entrevista a revista VIP.

Touro Bandido se alimentando

O auge do sucesso foi quando Bandido ganhou os lares de todo o país e passou a ser estrela da novela “América” no ano de 2005. Uma novela que tratou do universo country. Ao tomar conhecimento do touro, a autora Glória Perez logo percebeu que ele seria muito útil em sua trama. Tanto na novela como na vida real, os peões tem medo de enfrenta-lo, já que ele costuma ser cruel com quem ouse desafia-lo.
Por ser tão mal e temido, os peões começaram a boicotar o touro e se recusavam a montar no lombo dele. Foi assim que Paulo Emílio teve a idéia então de lançar os desafios e premiar o peão que conseguisse ficar os oito segundos em cima do touro. A idéia deu muito certo e Bandido se tornou um astro maior, tem um momento só dele durante a festa, o momento mais esperado por todos é a hora que o Bandido ganha a arena com seu corajoso desafiador em cima dele. Normalmente esses momentos não duram nem quatro segundos, mas o público sempre sai satisfeito.
Muitos são os corajosos que ousam desafiar o touro, o destino colocou Bandido frente a frente com um dos peões mais técnicos do país, Neyliowan Tomazelli, da cidade de Poloni, interior de São Paulo, campeão do Rodeio Internacional de Barretos em 1999. “Ganhar Barretos foi uma sensação muito boa, era meu primeiro ano competindo e não acreditava que tinha vencido o rodeio” diz Neyliowan que afirmou que sua vida mudou radicalmente após a consagração no maior rodeio do Brasil. “Passei a ser reconhecido e a aparecer na mídia” conta o atleta.
No ano de 2001, o peão foi sorteado para enfrentar o boi no rodeio de Jaguariúna. Adriano Moraes já havia o alertado que Bandido é um boi duro e que tinha o derrubado com facilidade, mas Neyliowan acreditava no seu potencial, dizia: “Pode vir qualquer um, eu vou vencer esse touro”. Mas a história não foi bem a planejada por ele, sua mão escapou da corda e o atleta virou presa fácil do animal. Se não bastasse a queda, Bandido foi busca-lo no chão, e com os chifres o arremessou a uma altura de 6 metros. Felizmente o peão não morreu, mas sofreu graves conseqüências do acidente, teve a sétima vértebra quebrada, e a sexta vértebra amassada, Neyliowan ficou nove meses afastado das montarias. “Foi a partir daí que Bandido ganhou fama” conta o atleta.
Desde que foram criados os desafios, até o lançamento da novela, nenhum peão conseguiu ficar os oito segundos em cima do Bandido. Essa é uma tarefa praticamente impossível, se o boi não derruba o peão logo de cara, ele derruba na marra, dando um giro no ar de 180 graus e se atirando no chão.
No ano de 2003, Neyliowan Tomazelli, aquele mesmo que quase perdeu a vida dois anos antes, voltou a desafiar o boi. “O pessoal dizia que eu era louco, mas sempre acreditei que pudesse vencer o touro” conta Tomazelli.
Na época colocaram termômetro para fazer medição no coração, e ver se os batimentos cardíacos do peão disparavam no momento da prova. “Após cair pela primeira vez do touro, passei a ir visitá-lo às vezes em sua fazenda, conversava um pouco com ele, coçava a sua cabeça, ele deixava na boa” conta o peão que não guardava ódio do touro, só queria sentir o gosto de derrota-lo.
Porém, foram exatos 5,4 segundos que Ney durou em cima do touro Bandido, mas desta vez o boi o poupou de conseqüências mais graves, Bandido se jogou no chão com o peão ainda em cima de seu lombo, o derrubando na marra. “É um boi que alia seu enorme tamanho com seu instinto rápido”, são os elogios de quem foi vencido duas vezes pelo touro Bandido.

Bandido x Neyliowan Tomazelli

Em 2004, foi a vez então do peão consagrado mundialmente, e vencedor da PBR, Ednei Caminhas desafiar o boi. Não conseguiu ficar nem dois segundos em cima do touro.

Bandido x Ednei Caminhas

No ano de 2005, Bandido ganhou de vez a mídia ao ser uma das estrelas da novela América, com isso, a direção da Rede Globo proibiu que os desafios fossem feitos. Tudo para preservar o animal, já que se tratando de uma novela global, um montante de dinheiro é colocado na veiculação da imagem do boi. Ou seja, o touro não pode se machucar, mas mesmo só desfilando pela arena, ele já faz a alegria da galera.
Bandido foi a grande atração do rodeio da 50ª festa do Peão de Boiadeiro de Barretos. Na sexta-feira, 26 de agosto, desfilou pela arena do estádio sendo ovacionado pelo público. No sábado e domingo, 27 e 28 de agosto, ficou na feira comercial posando para fotos com seus fãs. A renda das fotos foi toda revertida para o Hospital do Câncer de Barretos.
O nome Bandido se tornou uma marca muito forte, nos rodeios nota-se diversas pessoas com camisetas, bonés e fivelas do touro, o bicho tem até um site próprio na internet (http://www.tourobandido.com.br/). Nos out-doors, e propagandas, o touro sempre é anunciado junto com outros nomes da música, é uma atração a mais e diferenciada, rodeio com o touro Bandido sempre vai vender mais ingressos do que um rodeio comum.
Apesar de toda fama, Bandido não é um touro invicto, um peão já teve a façanha de conseguir ficar oito segundos em seu lombo, porém Bandido ainda “engatinhava”, tinha apenas 3 anos, era novo demais para os rodeios. Bandido pode muito bem ser considerado um Pelé dos rodeios, dificilmente surgirá algum touro igual, tanto que já se fala até em clonar o animal que nasceu de um cruzamento das raças nelore com simental.

Personagens

Sua excelêmcia: o peão

O peão pode ser considerado o principal personagem de uma festa de rodeio. Para ele que se voltam os holofotes, é ele que está em busca dos prêmios, e é para ele que cabe a tarefa de encarar os mais ferozes animais e superar os seus próprios limites. A rotina de um peão de boiadeiro é intensa, seus dias de ficar com a família é segunda, terça e quarta, mas mesmo assim o atleta aproveita esse tempo de folga para treinar e manter sua preparação física, sempre buscando aprimorar sua resistência física. Já nos dias de rodeio, quinta a domingo, o atleta passa boa parte do tempo competindo e viajando pelas estradas.

O peão de boiadeiro vai ao rodeio em busca da consagração, e, para isso, precisa seguir algumas regras e usar uma vestimenta adequada para o evento. Caso contrário, pode ficar o tempo que quiser em cima do touro, que será desclassificado. É exigido dos competidores o uso de chapéu ou capacete, calça de couro abotoada, bota ou botina, camisa de manga comprida com o punho da mão livre abotoado, cinto, fivela e espora, sendo que esta não pode ter pontas, já que o objetivo da prova não é machucar o animal e sim fazer apenas cócegas na tentativa de melhorar seu desempenho. O colete de proteção é obrigatório na montaria em touros e opcional para as demais modalidades. Ele serve para absorver o impacto da pancada do touro, distribuindo o impacto para o resto do corpo.


Coadjuvantes Indispensáveis


O sistema de avaliação nas provas de montaria consiste em dar uma nota de zero a cem. São dois juízes que avaliam o desempenho do competidor e do animal. Cada um fica de um lado da arena para poder avaliar melhor o desempenho dos atletas e do animal. Cada juiz tem o direito a dar no máximo 50 pontos, sendo que esses são divididos, 50% da nota se da para o desempenho do peão, e os outros 50% para o desempenho do animal. A nota final é a soma da avaliação dos dois juízes.

Para avaliar bem, um juiz precisa ter precisão e rapidez. Afinal, oito segundos é o tempo que ele dispõe para julgar a prova. O ideal é que seja íntegro, imparcial, e tenha o conhecimento das regras. Tião Procópio é um dos principais juizes do Brasil. Para ele, é fundamental para o juiz já ter montado antes, ter tido uma experiência prática. “Com minha experiência como peão, sei quando o touro está dando pulos difíceis”, conta o juiz, que ainda fez cursos nos Estados Unidos para poder analisar o grau de dificuldade do animal e a técnica do animal com total eficiência.

Tião foi o primeiro peão brasileiro a fazer sucesso no exterior. É considerado principal responsável pelo desenvolvimento do rodeio em touros no Brasil. Ele empresta seu nome para o personagem principal da novela América de Glória Perez. “Ele foi inspirado na minha história, começou desde pequeno montando em bezerros, ganhou os principais rodeios do país, inclusive Barretos e tem uma sólida carreira internacional”. Tião conheceu Glória Perez no ano de 2003 e por diversas vezes se reuniu com a autora para contar um pouco das suas histórias. Para Tião, a trama não retrata fielmente a rotina e a vida dos personagens do campo. “A novela deixa muita a desejar, muitos estão insatisfeitos, ela retrata o que passa na cabeça dela”. Porém não se sente chateado, pois se trata de uma ficção e a autora tem todo o direito de escrever o que quer.
Nas provas de velocidade, o juiz apenas verifica as possíveis irregularidades, o cronômetro é quem define os vencedores.
O juíz de rodeio Tião Procópio
Além do juiz e do peão, a festa contém outros personagens, sem eles não seria possível a realização de um rodeio.

O palhaço salva-vidas é o que faz o trabalho mais arriscado entre os profissionais de um rodeio. Tanto que também são chamados de anjos da arena. Sua tarefa nada mais é do que salvar o peão de ser pisoteado pelo touro.

O palhaço precisa ter muitas habilidades, como ginga, criatividade, reflexo, pensamento rápido e principalmente coragem para enfrentar os bravos touros com cerca de mil quilos de músculos com o pensamento de destruir quem ousar cruzar o caminho deles.

Para chamar a atenção dos animais, os palhaços usam roupas coloridas e caras pintadas. Muitos deles gostam de trabalhar em dupla, como é o caso de Dinho & Dici. Os irmãos ganham a vida com esse trabalho e se sentem muito realizados com isso. “Vivemos desta profissão e temos muito orgulho dela, pois não teria jeito mais honesto e prazeroso de ganhar o dinheiro para o nosso sustento do que ajudando as pessoas. Agradecemos a Deus por tudo”.

Dinho & Dici acreditam muito em Deus, visto que a profissão já os fizeram sofrer graves contusões. Dinho já sofreu um corte na cabeça, onde teve que tomar 20 pontos, além de pisão nas costas, distensão na coxa e corte no tendão da perna. Em um dos inúmeros pisões tomados, Dici foi parar no hospital com sangramento interno, onde era comum urinar sangue puro, e também já tomou chifrada no rosto, além de inúmeras distensões e pancadas.

“Graças a Deus da tudo certo. Deus sempre manda os anjos para por a mão entre nós e os touros, é que às vezes temos que saber do que o touro é capaz para que jamais deixamos de respeitá-los” diz. Apesar de tantas contusões, Dinho & Dici não sentem raiva dos animais, ao contrário, os adoram “Amamos os touros, pois é por meio deles que podemos ganhar a nossa vida. Jamais iríamos fazer qualquer coisa para machucá-los”. Os palhaços são conscientes que esses animais que amam a qualquer momento podem tirar-lhes a vida.
Além de trabalharem em diversos estados do país, Dinho & Dici fizeram também carreira internacional, sendo os primeiros palhaços salva-vidas a trabalharem nos Estados Unidos e inclusive são credenciados da PRCA (Professional Rodeo Cowboy Association) a maior e mais antiga associação do mundo. Começaram a carreira no ano de 1995, e com tanto tempo de experiência, acham normal o fato de ficar frente a frente com o animal. Apesar de existir uma certa adrenalina, sempre entram na arena preparados fisicamente e psicologicamente para isso.
Eles nos disseram que o momento mais difícil que existe para um palhaço é quando o peão fica com mão presa na corda americana. Nesse caso, têm que empaletar (abraçar) o touro para desamarrar a mão do atleta. “É um momento que o salva-vidas tem que ser muito frio, calculista e ter muita coragem, sabendo a hora certa de empaletar o touro, se não ele se machuca e não ajuda o cowboy”.

Além de Dinho e Dici, outros palhaços também se destacam no mundo dos rodeios, Django e Meio Quilo foram os pioneiros dessa profissão no Brasil. Outros nomes também merecem destaque como Ronan Felipe, Pirilampo e Topa Tudo.
Dinho & Dici em ação

Uma função indispensável no mundo dos rodeios é a do madrinheiro. Montado a cavalo, é ele quem retira o cowboy do dorso dos animais após a prova, colocando-os com segurança no chão da arena, além de levar o touro de volta para o curral. Já a função do sedenheiro é puxar o sedém (tira de couro) antes de cada prova. É um trabalho que exige experiência e conhecimento do comportamento de cada animal.

O sonoplasta, uma espécie de DJ do rodeio, precisa animar o povo. Ele tem que soltar a música correta na hora certa, de acordo com o andamento do rodeio, e precisa ter grande afinidade com o locutor. “Meu trabalho nada mais é que intercalar música com a voz do locutor, um suporte pra ele”, conta Paulo Leandro Soldera, conhecido como Lessauro. O sonoplasta já participou de mais de 50 rodeios, tendo trabalhado com 35 locutores diferentes.

Atualmente, Lessauro faz parte da equipe do locutor Almir Cambra, considerado o locutor mais técnico da atualidade. Ele diz que é muito fácil animar a galera com músicas como “Erguei as Mãos”, do Padre Marcelo e “Festa no Apê”, do Latino, mas prefere tocar músicas clássicas de qualidade. “É mais gratificante você fazer alguém cantar uma música do Creedence, por exemplo”. Para ele, o segredo é saber usar as músicas no momento certo. “Rodeio em touro toco rock ou pop, e dance, por ser radical. Já no rodeio em cavalo procuro não fugir das raízes e toco sertanejo por ser uma modalidade brasileira”.

O locutor é responsável por transmitir o rodeio para o público. No entanto, diferentemente de uma partida de futebol, além de narrar as provas é preciso interagir com o público, não deixando a festa esfriar, precisa também saber as regras de montarias para fazer seus comentários técnicos, já que muitos dos que prestigiam o evento não têm um bom conhecimento das provas.
Existem muitos locutores que fazem enorme sucesso, chegando até a ficar mais famosos que os peões, casos de Marco Brasil e Gleydson Rodrigues. Além é claro, de Almir Cambra, considerado o mais técnico do rodeio na atualidade, tal rótulo se da justamente pelo fato dele conhecer todas as regras do esporte. Almir, que já narrou Barretos dez vezes, nasceu e foi criado na roça. Desde pequeno, gostava do esporte e vivia imitando o Zé do Prato, locutor mais famoso na época em que ele era criança, e que imortalizou a célebre frase “Segura Peão”.

Ao ingressar em uma faculdade em Jaboticabal, Almir começou a narrar rodeios universitários e, aos poucos, foi construindo sua sólida carreira. “O locutor tem de sempre estar feliz. Todos os dias você tem que sorrir e emocionar, mesmo que não esteja a fim, já que o povo está lá para se divertir”, conta o narrador oficial de Barretos.

Almir também revelou que um dos momentos mais engraçados que narrou foi quando um americano desafiou o Brasil, dizendo no microfone que por aqui não tinha touro que o derrubasse. Ao ver o peão cair, Almir inflamou o público ao dizer, “aqui não gringão, aqui é o Brasilzão”. A arquibanda veio abaixo de tanto delírio. Todo locutor que se preze, precisa ter também um bom arsenal de versinhos e piadas. Muitos desses profissionais gostam de narrar o rodeio dentro da arena, passando mais emoção para o público.
Almir Cambra narrando o rodeio de Barretos

O comentarista é quem transmite as informações esclarecedoras sobre cada apresentação e também passa uma noção técnica para o público poder entender o que se passa na arena.
O tropeiro é quem compra, cria e fornece os animais para o rodeio. É preciso competência por parte deles para saber se o animal pode participar de um rodeio. “De cem touros que monto, só quatro servem para competir”, diz o tropeiro Flávio Junqueira. Alguns tropeiros, entre eles Junqueira, além de comprar animais puladores gostam de produzir seus próprios animais, fazendo isso por meio do cruzamento de touros puladores aposentados com vacas normais.
Atualmente o homem que mais investe em touros no Brasil se chama Paulo Emílio e possui uma companhia de rodeios com o seu próprio nome. Paulo Emílio tem cerca de 200 touros em sua fazenda, muitos estão entre os melhores do Brasil.

O berranteiro tem a função de tocar o berrante, que é o símbolo de toque da boiada. Por fim, há os médicos e veterinários que cuidam da saúde do animal.

Existem também as apresentações que fazem a alegria do público, como caminhonete e motos levantando poeira na arena e claro a rainha do rodeio que empresta todo seu brilho e seu charme para embelezar o evento, ajudar na divulgação e deixar os marmanjos babando.
Para a criançada que está começando no meio, os organizadores das festas promovem a montaria em carneiros e abre espaço para narradores mirins poderem mostrar seu talento.

Heróis não valorizados

O rodeio aqui no Brasil ainda está longe de ser uma unanimidade, nos Estados Unidos já é uma tradição muito antiga e lá os peões são famosos e bem mais valorizados que aqui. “Lá o peão é tratado como jogador de futebol aqui no Brasil” diz Edgard Lazaro de Oliveira em entrevista a Eugênio José de Lima, peão que compete no rodeio universitário e dono de um blog na internet, onde conta bastidores do mundo dos peões. Edgard é um dos atletas brasileiros que são super valorizados nos Estados Unidos e um mero desconhecido aqui no país.
Outro peão com fama e status lá fora é Guilherme Marchi, da cidade de Leme, interior de São Paulo. Guilherme diz que nos Estados Unidos os organizadores não visam o lucro do evento e sim melhorar a associação onde eles fazem de tudo para o peão. “Lá nós somos profissionais e nosso trabalho é reconhecido”.

Desconhecido no Brasil, Guilherme Marchi faz sucesso nos EUA

Paulo Roberto Franzin, conterrâneo de Marchi, acompanhou as competições de Barretos na arquibancada, “nem sabia de quem se tratava”, diz Paulo, que só foi conhecer o peão no dia da final do rodeio em touros. “No meu ponto de vista, poderia ter muito mais destaques para esses atletas que se destacam no exterior e aqui são desprezados” diz.
Guilherme Marchi nos fez uma boa discrição de como se sente ao viver em função do rodeio. “Viajo praticamente toda semana, e é gostoso que da para conhecer diversas pessoas e lugares”. Guilherme não esconde que o rodeio é uma profissão de risco, ele está fazendo seu pé de meia nos Estados Unidos, onde a premiação é muito superior ao do Brasil e pretende se aposentar o mais rápido possível. “Priorizo sim os rodeios aqui nos Estados Unidos, tenho que fazer minha vida aqui, pretendo me aposentar rápido e minha esposa gosta muito daqui”.
Nos ano de 2005 e 2006 conquistou excelentes resultados em terras norte-americanas, por suas vezes se sagrou vice-campeão da principal competição de rodeio em touros do mundo, a PBR.
O rodeio organizado pela PBR, Professional Bull Ridding, é considerado o maior do mundo. Com etapas disputadas nos Estados Unidos, a PBR é o principal titulo que um profissional em montaria pode conseguir na carreira. Dois brasileiros já obtiveram a incrível façanha de ser campeão do mundo.
Adriano Moraes conseguiu essa proeza por três vezes, faturou o título da PBR em 1994, 2001 e 2007. Adriano pode muito bem ser considerado o melhor peão que já existiu no Brasil. Por ser um esporte pouco difundido no país, ele faz mais sucesso nos Estados Unidos, onde até virou tema de um documentário de 10 capítulos no canal Discovery. O documentário ainda está em fase de produção, mas com certeza irá projetar ainda mais o nosso tri-campeão.
No Brasil, ele ainda é pouco conhecido, em um levantamento feito com alguns colegas de faculdade na FIAM, constatamos que ninguém nem sabe quem é Adriano Moraes, dos 50 alunos que perguntamos, apenas um o conhecia, o estudante de jornalismo Francisco Luciélio Guimarães, mas não pelo fato de montar e sim por seu trabalho religioso na Canção Nova, uma comunidade católica com objetivo de evangelização através dos meios de comunicação. Porém para qualquer pessoa que pretende saber o que é rodeio, é necessário conhecer um pouco da vida do nosso campeão.
Nascido em Quintana, interior de São Paulo, tinha uma família humilde e algumas vezes passou necessidades na infância. Graças ao rodeio conseguiu construir uma carreira sólida, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, onde é um dos peões mais valorizados, há mais de dez anos compete no exterior e sempre esteve entre os melhores. Sua esposa Flávia ele conheceu em novembro de 1989 quando foi montar na cidade de Matão, desse casamento rendeu os seus três filhos.
Com a boa premiação das competições, Adriano conseguiu ajudar seus familiares, fazer uma bela carreira profissional e o mais importante construir uma família. Adriano não agradece só ao rodeio, mas a Deus também que ele credita todo o seu sucesso e quando não está montando procura sempre participar de atividades religiosas.

O tri-campeão do mundo Adriano Moraes

Ednei Caminhas é o outro peão brasileiro que já obteve o título da PBR, foi no ano de 2002. Nascido na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo, Ednei começou a competir com 17 anos.
Com os bons resultados foi tentar a sorte em território norte-americano no ano 2000 e logo de cara já ganhou fama ao permanecer durante oito segundos sobre o temido touro Dillinger, até então imbatível. Participou também de um desafio com o touro Bandido, o mais agressivo do Brasil, no ano de 2004, mas se tornou uma das mais de 200 vítimas do feroz animal.
Em entrevista a Tv Rodeio, Ednei conta que os bois brasileiros são os que causam maior dificuldade aos peões. “Os animais brasileiros pulam com a traseira e são mais ligeiros. Já os americanos são um pouco mais fortes e pulam para frente, o que favorece os competidores”, destacou Caminhas para o site da Tv Rodeio.
O rodeio atualmente é considerado um esporte, e os peões são considerados atletas profissionais. Seguindo os passos da PBR, os peões brasileiros também criaram a sua própria associação, no ano de 2003 foi fundada a PRT, uma associação brasileira dos profissionais em touros.
A PRT foi feita justamente para profissionalizar o esporte e melhorar as condições de segurança e premiação do atleta. Sua criação foi orientada pela PBR através do Adriano Moraes. “Para o futuro espera-se que a PRT e a PBR seja uma única só associação” diz o presidente executivo da PRT Flávio Junqueira.
Só no ano de 2005, 17 etapas foram realizadas, a premiação beirou os 200 mil reais e a tendência é a PRT ir ganhando força a cada ano que passa.
Os competidores mesmo que decidiram entre eles quem exerceria as funções políticas da PRT, o presidente eleito foi André Metzer. Na época ele disputava provas nos Estados Unidos, mas aceitou fazer parte dessa associação, mesmo tendo que comprar briga com empresários que controlavam o meio.
Com a criação da PRT, o rodeio passou a ter muitas melhoras. As etapas contam com os 45 peões bem mais colocados no ranking, mas existe também uma divisão de acesso, para os peões que buscam estar entre os 45 melhores.
André Metzer nos contou, dias após a festa de Barretos de 2005, que a premiação melhorou significativamente, as inscrições deixaram de ser cobradas, os atletas adquiriram o direito de levar convidados para assistir as provas e em cada etapa uma equipe médica especializada acompanha os competidores que em caso de contusão recebem assistência da melhor qualidade.

Panorama de um rodeio


O que é rodeio


Segundo o dicionário Michaelis, a palavra rodeio é definida como uma competição esportiva que consiste em o cavaleiro montar um cavalo ou um boi, não domesticados, e manter-se sobre ele o máximo de tempo.
No entanto, a leitura do verbete é insuficiente para descrevê-lo, afinal se trata de uma descrição teórica. Na prática, se perguntarmos o sentido do rodeio para uma pessoa envolvida no meio ou que o prestigia, a resposta pode surpreender: significa uma vida. E, como toda vida, existem momentos de emoção, alegria, glória, adrenalina, medo, ansiedade, perigo, tensão, dinheiro, música, religião e festa.
Não se pode esquecer que o rodeio é um esporte, existe uma competição envolvida, e é claro que nesse momento, um vai querer ser melhor que o outro. Por ser um esporte individual, poucos terão seus momentos de consagração, a grande maioria volta para casa sabendo que poderia ter feito melhor. Porém essa rivalidade só existe por oito segundos, tempo em que um profissional de montarias tem para dar seu espetáculo, fazer sua apresentação. Fora esses oito segundos, o peão vive o resto do seu tempo cercado por pessoas do bem, e mesmo se tratando de um esporte radical, existe todo um clima festivo em volta dessas provas. E como tudo que uma platéia gosta é de se divertir, de rir, de se emocionar, o rodeio se tornou sinônimo de sucesso, e a cada ano que passa, mais pessoas prestigiam o evento, movimentando mais dinheiro e gerando mais empregos.
No rodeio se encontra de tudo um pouco: comida, bebida, brincadeiras, música, muita animação e gente bonita. Mas o principal mesmo, o que mais chama a atenção, é seu lado esportivo, suas competições. Elas acontecem no “coração” de todo rodeio, é dentro da arena (pista de areia fofa) que tudo esquenta, as emoções ficam a flor da pele, lá que ficam os animais esperando para darem seu show, mostrarem sua força, os competidores que buscam seu ganha-pão e sua consagração, além do público, que sempre comparece em massa e se eletriza com cada disputa. Com tanta emoção e adrenalina, uma festa de rodeio costuma parar a cidade onde é realizada, dando assim, uma boa injeção econômica para elas.
Pegando carona na cultura americana, as competições acabam se tornando um show. Existe todo um preparativo antes de começar a festa, como desfile de animais e apresentação dos patrocinadores. Depois vem um momento de patriotismo com a execução do hino nacional. Logo após, todos os personagens da festa são apresentados, por fim, um momento de devoção e fé, onde peões e salva-vidas de mãos dadas rezam ao som de “Ave-maria”.
Na 50ª festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, em 2005, coube a cantora Iza Mariana a tarefa de cantar a música. “É uma honra estar em Barretos na festa dos 50 anos, porque é um evento que promove o rodeio, um esporte de paixão nacional”, ressaltou a cantora em entrevista ao site dos Independentes, clube que organiza o rodeio de Barretos. Com o início da canção, a imagem de Nossa Senhora da Aparecida entra na arena, emocionando todo o público e o peão aproveita para fazer a sua oração e pedir que nada de mal aconteça nas competições. Nos principais rodeios do Brasil, a imagem da santa é carregada por Pedro Andarilho.
Passado o momento de religiosidade, o locutor começa a agitar a galera contando piadas e fazendo brincadeiras com a platéia, são os últimos preparativos antes do início das provas.



Rodeio tem tudo a ver com nacionalismo



História do Rodeio


No século XIX, após os Estados Unidos vencerem a guerra contra o México, os colonos norte-americanos adotaram os costumes de origem espanhola. O país derrotado, que foi colonizado por espanhóis, tinha influência cultural daquela nação. As touradas são uma das principais características da Espanha. Essa tradição foi introduzida e transformada no México e os Estados Unidos recriaram estas culturas.
Em 1869 aconteceu a primeira prova de montaria na cidade de Colorado. Era uma grande diversão para os vaqueiros. Nas competições eles podiam testar suas habilidades em cima do animal. No início do século XX, o rodeio já era visto como um entretenimento público. Existiam vários eventos no oeste dos Estados Unidos, e as convenções pecuárias eram celebradas.
Durante as primeiras décadas daquele século, lá por volta de 1920, o rodeio já era reconhecido como um esporte competitivo. Havia competições em Boston e na cidade de Nova York que atraiam a atenção em âmbito nacional para este novo esporte. Através da competência e dedicação dos organizadores, o rodeio saltou de esporte para entretenimento público. Esta atividade se tornou na metade do século um grande evento americano.
Até o rodeio chegar ao Brasil, o caminho foi bastante diferente. No início do século XX, já existia a atividade pecuária no interior brasileiro. Os peões que trabalhavam nas fazendas se divertiam ao tentar mostrar suas habilidades em cima dos gados. A cidade de Barretos, que tinha como principal atividade econômica a pecuária, realizou o primeiro rodeio do país em um sábado de 1947. A intenção da prefeitura municipal foi entreter os fazendeiros e os peões locais. É interessante ressaltar que naquela época, início do século passado, os meios de comunicação eram pouco desenvolvidos.
Em 1940 existiam alguns jornais impressos, algumas revistas, e o rádio começava a surgir. Porém os veículos de comunicação daquela época estavam preocupados em integrar o país em escala nacional. O mundo ainda não era globalizado e não se tinha muita informação sobre os outros paises, muito menos sobre sua cultura. Havia bibliotecas também, mas o que pode ter gerado a idéia do rodeio no Brasil foi o cinema. Os filmes norte-americanos rodavam no Brasil desde 1920 e podem ter sido responsáveis pela introdução do rodeio no país.



Provas e Regras


A principal prova de um rodeio, é a montaria em touros. Ela é a que oferece mais perigo aos atletas e conseqüentemente a que atrai mais público. É o duelo entre a coragem, determinação e técnica dos peões, contra a força, a explosão, os músculos e toda a brutalidade do touro.
Momentos antes da prova, o touro fica preso em um cubículo muito pequeno com grades de ferro, chamado de brete. Lá o peão já monta diretamente no lombo do animal, segurando as mãos em apenas uma corda amarrada na parte dianteira do touro. A outra mão fica livre no ar, não podendo ser encostada no animal, nem em qualquer parte do corpo.
Ao abrir a porteira o animal ganha a arena e seu objetivo é se livrar da pessoa que está em cima dele o mais rápido possível, o peão tem toda uma técnica para se manter em cima do boi, que precisa se esforçar para tomba-lo. Ao tentar derrubar o peão um bom touro tem que rodar bastante, inverter seu eixo de rotação (quebrar a paleta) e pular muito sem parar. Um touro em média da 14 pulos durante os oitos segundos. Ao cair no chão, a alternativa que resta ao atleta é tentar se levantar o mais rápido possível e fugir do animal enfurecido.
Apesar dos riscos, a nota final do competidor depende diretamente do touro, não adianta pegar um touro bonzinho, que não pula muito, nesse caso, a nota do peão vai lá para baixo. Vale lembrar que o competidor só recebe pontuação ao ficar os oito segundos em cima do lombo do animal, caso contrário sua nota é zero, o que prejudica muito no seu resultado final. Nessa prova, não é necessário esporear o touro, mas é sempre bom o peão fazer isso, para mostrar aos juízes que ele está tendo total controle sobre o animal.
Mas quem pensa que as provas de rodeio são apenas as montarias em touros está profundamente enganado. Outras oito provas oficiais completam o rodeio. Existem as montarias em cavalos, elas têm um nível de dificuldade menor que nos touros, por ser tratar de um animal mais leve e menos agressivo. São três as modalidades:

Bareback: Prova que teve origem nos Estados Unidos. Nela, o peão tem que ficar oito segundos em cima do cavalo. Essa prova se caracteriza pelo fato do competidor não ter apoio nos pés, já que os estribos não são permitidos, ele tem que ficar agarrado a uma alça de couro posicionada junto à crina do animal. No primeiro pulo o atleta deve posicionar as esporas no pescoço do animal, depois ele puxa as esporas fazendo as pernas alcançaram a alça do “bareback”. O peão fica em uma posição praticamente horizontal. É uma prova que exige força na mão, agilidade no movimento de pernas e muito equilíbrio para esporear o animal de acordo com o sincronismo exigido.
Cutiano: Prova com estilo tipicamente brasileiro de realizar a montaria. O objetivo da prova é ficar oito segundos em cima do cavalo, porém o peão não tem apoio para as mãos no arreio, ele se segura por meio de duas cordas presas na peiteira do animal. O peão deve esporear o animal na região entre a paleta e o pescoço do bicho. Essa prova só é realizada nos rodeios brasileiros e exige muito equilíbrio dos competidores que devem evitar esticar as pernas, pois perderá pontos.


Sela Americana (Saddle Bronc): O peão deve se manter em cima do cavalo no mínimo oito segundos para obter sua nota. Nessa prova o cavalo é arriado com sela. Com uma das mãos o peão segura uma corda de sisal presa ao cabresto, e a outra mão deve ficar livre. No primeiro pulo, o peão posiciona sua espora entre a paleta e o pescoço do cavalo, No segundo pulo puxam-se às esporas da barriga do animal para a parte de trás da sela. É uma das provas mais tradicionais do rodeio, foi criada no ano de 1929 nos EUA.
Além das provas de montaria, existem também as provas cronometradas que exigem do peão velocidade e técnica.
Laço em Dupla (Team Roping): Nesta prova dois competidores devem laçar um bezerro. O laçador cabeceiro tem a tarefa de laçar o pescoço ou o chifre do animal, depois, o laçador peseiro fica com o trabalho de laçar as patas traseiras do animal. O tempo é cronometrado a partir do momento com os peões deixam o box e termina quando um se posiciona na frente do outro com as cordas esticadas. Vence a dupla que realizar a tarefa em menos tempo. A dupla que ultrapassar o tempo limite de dois minutos é desclassificada.

Laço de Bezerro (Calf Roping): Na prova o objetivo do peão é laçar o bezerro em movimento pelo pescoço, depois ele pula do cavalo para amarrar três das quatro patas do animal para que ele fique imobilizado. O tempo é cronometrado assim que o peão deixa o box logo após o bezerro, e termina quando o laçador monta sobre o animal imóvel e levanta as mãos. Ganha o peão que realizar a tarefa no menor tempo e o laçador é desclassificado quando o animal se solta em menos de cinco segundos.

Bulldogging: Nesta prova participam dois peões e um bezerro. Os competidores deixam seu box logo após a partida do bezerro. O peão que fica a direita tem o trabalho de manter o bezerro em uma linha reta, evitando que o animal fuja para o lado, já o outro peão tem um serviço mais complicado, ele salta do cavalo em movimento, agarra a cabeça do bezerro, derrubando-o e virando seu pescoço no chão, dando uma espécie de mata-leão para imobiliza-lo. Sagra-se vencedora a dupla que realizar a tarefa no menor tempo. Caso o tempo limite de 60 segundos seja esgotado, o competidor é desclassificado.


Três Tambores: Uma prova que chama a atenção por ser praticada apenas por mulheres e por unir habilidade com velocidade. Três tambores são colocados na arena a uma distância de mínimo 4 metros entre eles, formando um triângulo. A amazona deve contornar os tambores sem deixa-los cair, podendo apenas toca-los, e voltar em disparada para o ponto de partida. A punição pela queda dos tambores é um acréscimo de cinco segundos por tambor no tempo final. Vence a prova a competidora que realiza-la no menor tempo. O peso da amazona, mais os equipamentos (sela, freia, manta) deve ser de no mínimo 65 kg, para garantir uma igualdade entre as competidoras. Já o cavalo precisa de agilidade e velocidade para contornar os tambores.


Team Penning: Esta prova só foi ser considerada oficial no ano de 2003. Trinta bezerros numerados de 0 a 9 são espalhados em um canto da arena, sendo assim ficam três bezerros para cada número. Três atletas participam da prova, normalmente são membros da mesma família. Montados a cavalo, os peões recebem um número e tem que buscar os bezerros numerados com o número recebido e leva-los para um curral, localizado do outro lado da arena. Ganha a prova quem fizer em menos tempo. Além da dificuldade em ter que levar o animal para o curral é bem complicado conseguir localizar um bezerro no meio de tantos.




Tradições Sertanejas

As festas de Rodeio representam o ápice da cultura sertaneja. Esta que tem a sua origem em cidades interioranas e que contam com atividades agrárias. No Brasil essa cultura caipira cai no gosto de muitas pessoas, inclusive de pessoas que moram em grandes cidades. A musica é a principal fonte de divulgação dos costumes interioranos para o resto da população.
Em meados do século XX, quando começavam a surgir os rodeios no Brasil, o país estava no período democrático. Não havia mais a ditadura de Getúlio Vargas e o país já havia crescido no campo industrial. Os meios de comunicação também já existiam e eram regulamentados pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).
Precisamente na época em que Juscelino Kubitschek era o presidente brasileiro, entre 1956 e 1961, começavam a surgir manifestações culturais no território nacional. E curiosamente nesse período surgiu o rodeio no país. A musica popular brasileira crescia e era revolucionada pelo movimento bossa nova. Este que representava a emergência urbana do Brasil e recebia uma avassaladora influência norte-americana pós- guerra.
Na contramão deste movimento, com o surgimento dos rodeios, a cultura de campo mostrava a sua garra e não deixava suas tradições caírem no esquecimento com o crescimento da sociedade urbana. Porém, não se pode negar que o rodeio chegou ao Brasil através da influência norte-americana e que estas influências são oriundas do movimento bossa nova.
Cantores Sertanejos, música caipira e country através de suas letras e sons mostravam a vida do campo. As mensagens românticas dos cantores conquistaram o gosto de muitas pessoas e alcançaram o sucesso no país através de shows e discos.
Outros costumes caipiras e que se tornaram tradicionais na festa de Barretos e nos rodeio espalhados pelo Brasil inteiro são a queima de alho, a catira, o concurso do berrante e a violeira Rose Abrão.
A queima de alho acontece desde a primeira edição da festa de Barretos em 1956. A tradição consiste em um concurso culinário onde o vencedor é o cozinheiro que prepara o melhor prato à moda dos tropeiros em um menor espaço de tempo. O prato é composto de arroz carreteiro, feijão gordo, paçoca de carne e churrasco. Para o preparo é utilizado um fogão improvisado, bem próximo ao chão.
Em Barretos, a prova é realizada no Ponto de Pouso, uma área de 1500 metros quadrados instalados em uma reserva florestal dentro do Parque do peão. O mais curioso é que esse nome é uma gíria, no caso, queimar o alho é quando o cozinheiro deixa a comida passar do ponto. O concurso da queima do alho não é aberto ao público e somente os convidados têm o prazer de experimentar os deliciosos pratos da cozinha tropeira.

A tradicional e saborosa queima do alho
Também presente desde o primeiro evento de Barretos, a catira faz parte do folclore da festa. Trata-se de uma coreografia executada por entre seis a dez homens acompanhada de uma dupla de violeiros que ficam tocando e cantando moda sertaneja. Os participantes geralmente são lavradores, boiadeiros e comerciários. Na coreografia eles realçam o bate-pé e o palmeado, enquanto os violeiros ficam frente a frente.

Catira, dança tradiocinal na festa de peão
O concurso do berrante é uma competição onde o vencedor é o berranteiro que consegue tirar os sons mais bonitos do instrumento feito com chifre de boi. Essa atividade exige muita habilidade, pois conseguir tirar um belo som do berrante é difícil, exigindo muito do fôlego. Em Barretos, o concurso do Berrante é realizado sempre no Ponto de Pouso, junto com a queima de alho.
Mulher também sabe tocar berrante

O festival de moda da viola surgiu em 1984 na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos. Foi criado pelo clube “Os Independentes” com a finalidade de descobrir novos valores para o segmento musical caipira. Os músicos são compositores, que com suas violas produzem músicas caipiras e são bem aceitos. No início do século XXI, já havia muitos compositores profissionais no festival e ele se tornou de alto nível. O festival já revelou grandes talentos da múscica caipira, entre eles a renomada dupla Rio Negro & Solimões.

A tradiconal e empolgante moda de viola

Comitivas

A definição de comitivas, segundo o dicionário Aurélio, é apenas uma mera formalidade, pois trata-la apenas como gente que acompanha é muito pouco pelo seu significado em rodeio. Na prática, as comitivas são grupos de pessoas amantes desse evento cultural e esportivo que se unem com o propósito de difundir e participar das festas de peões em todo Brasil.
Tem uma importância maior que torcida organizada num estádio de futebol, porque além vivenciar a festa em conjunto, ajuda muitas vezes na organização e até condução dos eventos. Existem milhares de comitivas espalhadas pelo país e estão sempre ligadas a algum segmento, seja ele cidade, bairros, ideologias, duplas e cantores sertanejos e até opção sexual. Os nomes das comitivas mostram um pouco dessas influencias e direcionamentos dentro da festa, como por exemplo: Comitiva Boi Doido, Comitiva Cavalo Xucro , Comitiva Bebo pra Kraio, Comitiva Festa Louca entre outras tantas.
A ACESP (Associação das Comitivas do Estado de São Paulo) é o órgão de apoio as comitivas na divulgação e elaboração. Qualquer pessoa pode montar uma comitiva, para registra-la, deverá ser feita uma busca em um cartório para verificar se já existe alguma comitiva com o mesmo nome. Não havendo problema, é só registrar o nome. Após concluída a primeira etapa, deve ser feito um estatuto, com as regras e condições do associado para com a comitiva assinado por um advogado, pelos representantes da comitiva (com firma reconhecida) e registrado no cartório.
Depois, é só preparar a ata da primeira reunião com a assinatura do advogado, sem necessidade de registrá-la em cartório. Por se tratar de algo organizado, cada comitiva tem seu escudo próprio e seu uniforme. Um dos itens importantes no camisão da comitiva é a bandeira. Com base nos padrões adotados, todo integrante de uma comitiva deve ter o bordado da bandeira do Brasil em sua manga esquerda, na parte superior, como símbolo de representação nacional do seu estilo.
Algumas comitivas também utilizam a bandeira de sua cidade, que por sua vez, poderá ser bordada junto com a bandeira brasileira, ou em qualquer outra parte do uniforme. Depois de todas essas formalidades, os membros das comitivas caem na festa, se divertindo dançando músicas country e sertanejas, batendo a bota no chão, levantando poeira, seja nas festas de rodeio ou qualquer lugar e o que mais deixa as pessoas admiradas é a união que existe entre os membros de uma comitiva e a alegria que eles tem em viver a vida.


Bandeira da cidade de São Paulo

Música no ar

Música Caipira Nacional


A música sempre existiu, em qualquer época ela estava presente e sempre serviu como divertimento para o ser humano. Na época da colonização portuguesa em terras brasileiras, tudo era muito primário, mas a famosa viola caipira já existia desde aquele tempo. Porém o material era diferente dos dias de hoje, a viola era cavada em um tronco de árvore mesmo, e as cordas eram feitas de tripas de animais, depois passaram a ser feitas com arame. A partir da viola diversos ritmos e diversas danças foram sendo criados, como o cururu, a catira, o fandango e a moda de viola, ritmos dos primórdios da música sertaneja brasileira, um meio das pessoas da roça expressarem sua cultura.
Com a urbanização do país, a música caipira foi ganhando a cidade, e com a difusão do rádio, artistas sertanejos como Cascatinha & Inhana e Pedro Bento & Zé da Estrada passaram a ter espaço nas grandes gravadoras. No inicio dos anos 60, com o surgimento de Tião Carreiro, a música caipira cresceu mais ainda, foi conquistando novos adeptos, e com o tempo, foi surgindo mais e mais artistas do calibre de Sérgio Reis e Renato Teixeira, artistas que continuam fazendo sucesso mesmo com a virada do século.

Cascatinha e Inhana, dupla percursora da música caipira
Nos anos 80, o country music ganhou muita força comercial, e as violas elétricas foram adaptadas a música caipira, culminando com a explosão da dupla Chitãozinho e Xororó no ano de 1982. Outras duplas de sucesso vieram em seguida, e a tradicional musica sertaneja de raiz passou a dar espaço a músicas mais românticas.
Assim cantores como Zezé di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo arrastaram multidão de fãs em seus shows nos anos 90. Existem os que desaprovam as mudanças de rumo que teve a música sertaneja ao longo do tempo. Michel Roulet é um dos que prefere o sertanejo de raiz, “os sons atuais parecem música de corno”, ele ainda classifica duplas como Zezé di Camargo & Luciano e Edson & Hudson como “breganejo”.
Independente ou não da polêmica, a música sertaneja continua a ser destaque nesse início de século. Duplas como Bruno & Marrone, Edson & Hudson, e mesmo as mais antigas como Zezé di Camargo & Luciano ainda ganham muito destaque nos programas de auditório da televisão e sempre estão entre as músicas mais executadas nas rádios de todo o Brasil.
E o carinho do público com esses artistas as vezes extrapolam os limites éticos. A consultora de vendas Jenifer Faria é uma delas, vai em tudo quanto é show dos seus ídolos Zezé di Camargo & Luciano, “já fui para Florianópolis, São Paulo, Londrina, Ponta Grossa Maringá, entre outros” conta em entrevista a rádio 98 FM. Se não bastasse isso, Jenifer ainda fez uma tatuagem gigante em suas costas com o rosto dos músicos.
Um cowboy pode gostar de outros estilos musicais, isto não irá tirar o rótulo dele, porém em uma festa de rodeio, você irá ouvir muita música sertaneja nacional e também música country de artistas internacionais, como Garth Brooks, Alan Jackson e Shania Twain.


Conhecendo os artistas

Garth Brooks: Quem é que nunca cantarolou “Standing Outside On Fire?. Essa música é um dos maiores sucessos do gênero country no Brasil e presença constante em todas as festas de rodeios. O autor dela é Garth Brooks, o cantor country mais famoso do mundo. Brooks é um fenômeno, em 10 anos de carreira, vendeu mais de 100 milhões de discos só nos Estados Unidos, sendo responsável pela popularização da música country por lá. Aqui no Brasil ele já se apresentou na festa do Peão de Barretos no ano de 1998.

Shania Twain: Cantora canadense que une o pop ao country, suas músicas animam qualquer festa country, diversas delas ficaram no topo das paradas norte-americanas. Shania hoje é uma referência do country music. Sua beleza também contagia a todos. Infelizmente a cantora nunca se apresentou em terras brasileiras.

Shania Twain em apresentação histórica no Super Bowl

Alan Jackson: Ícone da música country americana, ganhou fama também aqui no Brasil. Levou mais de 80 mil pessoas em um espetáculo de primeira na Festa do Peão de Barretos, e já gravou uma música com o cantor Leonardo. Seus discos já ultrapassaram a marca de 40 milhões de cópias vendidas nos EUA.

Zezé di Camargo & Luciano: Começaram o estrelato em 1991 com o hit “É o Amor” e desde então não pararam mais de fazer sucesso. Hoje possuem uma legião de fãs e com 13 anos de carreira já ultrapassaram a marca de 13 milhões de discos vendidos e possuem uma média de 120 shows por ano. Zezé se destaca pela sua voz inconfundível e Luciano pelo seu jeito caipira de ser. No ano de 2005 ganharam a tela dos cinemas com o filme “2 filhos de Francisco” sucesso de público e crítica.

Chitãozinho & Xororó: 30 anos de carreira e muito fôlego ainda pela frente. Essa dupla estourou no ano de 1982 com a clássica “Fio de Cabelo”, o sucesso foi tanto que invadiu as rádios por todo o país, abrindo as portas para a nova música sertaneja, onde eram utilizados outros instrumentos musicais além da viola caipira. Depois disso vieram sucessos atrás de sucessos.

Rio Negro & Solimões: Dupla que atingiu o sucesso no ano de 2000 com a música “Bate o Pé”. Possuem um estilo próprio com músicas dançantes. A voz forte do Rio Negro e as palhaçadas de Solimões não deixam ninguém parado em uma festa de rodeio.

Bruno & Marrone: Com 13 anos de carreira, eles vieram de Goiás e ganharam fama no ano de 2001 com a música “Dormi na Praça”. A dupla é considerada a responsável pelo novo crescimento da música sertaneja no Brasil, que vivia um período de baixa. A receita do sucesso é as músicas românticas cantadas pela voz forte e impressionante do Bruno e a simpatia do carismático Marrone.

Bruno & Marrone, uma das maiores duplas da atualidade

Edson & Hudson: Nascidos no interior paulista, começaram de baixo, cantando em bares, praças públicas e rodeios. Aos poucos foram conquistando o sucesso e hoje é uma das principais duplas sertanejas do Brasil. A dupla alia o jeito debochado do Edson com toda a competência de Hudson com sua guitarra.

Daniel: Em carreira solo, depois de perder o parceiro João Paulo, passou a cantar músicas românticas, ideais para se dançar coladinho. Mas seu repertório conta também com músicas dançantes que agitam o seu show e garantem a diversão do público.


Invasão de outros estilos

As festas de rodeios pelo Brasil e principalmente a festa de Barretos abriu espaço para todos os estilos musicais, em um evento desse, nenhuma tribo fica de fora. Assim bandas como Detonautas, Capital Inicial, Charlie Brown Jr, O Rappa, Jota Quest, Inimigos da HP, Chiclete com Banana, Asa de Águia e Ivete Sangalo fizeram apresentações no parque do peão, teve até dupla sertaneja Rio Negro & Solimões cantando em cima de um trio elétrico.

Arena lotada no show de Rio Negro & Solimões
Na primeira sexta-feira da festa, após as competições, diversos DJs comandaram o som de suas cabines, entre eles nomes super conceituados como Patife e Marky Mark. Essa noite foi dedicada exclusivamente a música eletrônica e o estádio de Barretos foi palco de uma grande rave.
Acaba-se criando uma polêmica em torno disso, se é válido misturar bandas de rock e pagode com o estilo country e sertanejo. Milton Capps, da cidade de Jaú era um dos insatisfeitos com essa atitude dos organizadores. “Assisti a todos os shows da primeira semana, desses, o melhor e com mais gente foi o do Edson e Hudson”. Sua maior insatisfação, porém foi o fato de sexta-feira só ter tocado música eletrônica. “Duvido que em uma festa rave ou micareta fossem colocar música country e sertaneja, com certeza o pau ia quebrar”.
Já o piracicabano Rodrigo Trevisan, de 30 anos, tem uma opinião contrária, para ele tudo virou festa: “Estive no segundo fim de semana, e esse sim foi mistura, na sexta Bruno e Marrone e depois Babado Novo. No sábado então foi uma mistura que deixou todo mundo louco” Rodrigo também elogia os organizadores do evento. “É uma festa para todos os gostos e estava muito bom”.

Claudia Leite agitando o Barretesão com o Babado Novo
Para o sonoplasta Lessauro, o rodeio deixou de ser uma festa que só vai quem gosta das competições. “Virou uma balada”, conta. Ele também acha normal a música eletrônica entrar com tudo. “As bandas de baile estão perdendo espaço para os DJs atualmente”.

Acéssórios Country

As roupas que eles usam são muito especiais, um cowboy deve sempre trajar uma camisa, de preferência colorida e flanelada, que deve ser usadas para dentro da calça, para não esconder o cinto e a fivela. Muitos também adotam um estilo mais esportivo, usando camiseta pólo. A calça tem que ser jeans e bem apertada, na maioria das vezes é usadas calças escuras. Outros utensílios indispensáveis são as botas.
Não existe cowboy de tênis, muito menos de sapato. Essas botas podem ser variáveis, cano alto ou baixo, bico redondo ou bico fino, isso não importa muito, o que precisa é ser uma bota.
O chapéu também é um utensílio dos mais importantes e precisa de todo um cuidado especial. As abas devem ser dobradas, e pode-se enfeitar ele com pingentes, broches e até rabinhos feitos com crina de cavalo.
Em matéria veiculada no Globo Repórter, o peão campeão do mundo Ednei Caminhas considera o chapéu a sua segunda casa, “fico embaixo dele o dia inteiro”. Um bom cowboy deve sempre pegar seu chapéu pela copa e nunca pela aba. Existe também um referencial que mostra a qualidade do chapéu, quanto maior o “x”, mais valioso é o chapéu.
No rodeio de Barretos no ano de 2005, chapéus de 20x, feitos de pelo de lebre eram encontrados por preços que variavam entre 800 a 1500 reais. Já um chapéu Panamá, um modelo mais simples e viável custa em torno de 50 reais. Porém, o chapéu mais desejado e que quase não se encontra no Brasil, o de 100x chega a custar 8500 reais. O número de “x” vem marcado na parte interna do chapéu. Essa parte de dentro do chapéu também serve para os peões colarem uma figura da Nossa Senhora de Aparecida, para que nada de mal aconteça a eles.
Antigamente para se provar os bons modos, era necessário tirar o chapéu ao entrar em um recinto. Nos tempos atuais, o chapéu para o cowboy é como que se fizesse parte do corpo e só deve ser tirado quando a imagem de Nossa Senhora entra nas arenas dos rodeios, nessa hora tanto o peão quanto o público tiram o acessório da cabeça em respeito à santa.
A maioria das pessoas que mora no campo usa chapéu de couro ou de palha, “chapéu de feltro, só na novela mesmo”, conta o estudante de agronomia Michel Roulet. Para ele o feltro é muito ruim para o trabalho, e a moda country nada mais é do que uma derivação das roupas de trabalho dos agrônomos e peões.
Por fim tem o cinto e a fivela, o cinto normalmente é feito de couro e as fivelas variam muito, existem cintos com fivelas fixas, mas também existem fivelas personalizadas, assim você pode adaptar sua fivela preferida em qualquer cinto. Existem fivelas que chamam muito a atenção por serem banhadas a ouro, mas o mais normal é ver fivelas com desenhos de touro e cavalo, inclusive o touro Bandido. Porém a mais procurada no rodeio de Barretos era a com a imagem de Nossa Senhora de Aparecida e custava em torno de 100 reais. Muitos rodeios dão de presente aos ganhadores uma fivela personalizada, assim o peão pode usar o seu troféu durante o dia-a-dia. Esse é o uniforme oficial de um cowboy.
Mas se você não estiver disposto a vestir nenhuma dessas roupas e mesmo assim quer ir a uma festa country ou de peão, não tem problema, ninguém se importa com o modo que você irá se vestir, o que vale mesmo é a diversão. Na festa de Barretos esse ano, a maioria das pessoas portava camisetas e calça jeans, um traje bem básico e confortável para agüentar as diversas horas de festa. Festa que parece não ter fim, além das provas, faz parte de um rodeio os shows musicais, o público precisa de animação e nada como pisar na areia fofa e curtir seu artista preferido
Chapéu: o acessório mais importante de todo cowboy

Cowboy da Cidade

Muita gente ainda confunde rodeio com festa junina, acham que é só deixar uns pêlos na barba crescer, vestir uma camisa xadrez, um chapéu de palha e cair na gandaia. Mas não é bem assim, há muito tempo a moda country deixou de ser coisa de caipira, atualmente é um estilo de vida em qualquer lugar do mundo.
Um verdadeiro cowboy precisa se vestir com elegância, conhecer a cultura country e sertaneja e ter muita animação. Você pode ser um cowboy tanto no campo quanto na cidade, não existe mais essa história da pessoa que tem sotaque paulista e por isso não ser considerada do mundo country. Esse universo vem crescendo e muito em cidades grandes como São Paulo e Rio de Janeiro, entre outras. Acessórios da moda country são encontrados por todo o país, nas vitrines dos principais shoppings e lojas e hoje em dia, ninguém precisa falar com o “R”, ou o “T” puxado para fazer sucesso com as breteiras (mulheres que acompanham rodeios).
Um dos maiores espaços country da cidade de São Paulo é o Villa Country, com uma área de 12 mil metros quadrados, a casa, inaugurada em 2002, promove diversos shows de duplas sertanejas ou de grupos country, cantores famosos constantemente fazem shows na casa, que também abre espaço para cantores em início de carreira. É um lugar com diversos ambientes, que faz você se sentir no velho oeste americano, além disso, possui um restaurante com comidas típicas, para o pessoal forrar o estômago antes da festa.
Existem também outros pontos de encontro dos cowboys e das cowgirls na cidade de São Paulo, casas como Estância Alto da Serra, Rancho Rezende e Rancho do Serjão também fazem sucesso com esse tipo de público. Nesses lugares é comum ver pessoas com as mesmas roupas e fazendo os mesmos passos. Parece que eles fazem parte de uma mesma escola e que estão de uniforme, mas na realidade, eles fazem parte da comitiva e nessas festas eles aproveitam para dançar a noite inteira e treinar seus movimentos.
Porém o berço da cultura country ainda é o interior, onde os rodeios crescem mais a cada dia. Estas cidades vem se industrializando, se urbanizando e oferecem um bom sistema de ensino, ou seja, as cidades do interior não devem nada para as grandes cidades, apesar disso o sonho de muitos ainda seja morar em uma grande metrópole como São Paulo e Rio de Janeiro. Existem também aqueles que acabam seguindo o caminho inverso, saem das grandes cidades e vão morar no interior, onde sempre encontram um ambiente agradável e hospitaleiro para construir sua vida.
No interior o ritmo de vida não é tão intenso que nem em São Paulo, as pessoas são mais calmas e a onda de violência é bem menor. “O que se vê por aqui é furto de coisas pequenas, como CD player e muito ladrão de galinha” conta Michel Roulet, nascido em São Paulo, mas atualmente morando em Piracicaba.
O rodeio é um exemplo do forte do crescimento dessas cidades, com a festa, muitas aumentam e bem suas verbas, e até grandes cidades como Ribeirão Preto e São José do Rio Preto contam com sua anual festa de rodeio. Resta saber se um dia o rodeio deixará de ser uma cultura do interior e ganhará as capitais.





Villa Country, local onde se reunem os "cowboys" da cidade

Animais: os reis da festa

Polêmica no ar

Para se fazer um rodeio de qualidade, é necessário que os animais sejam bem tratados, é preciso que ele chegue bonito e robusto, já que eles também são os astros da festa. Em sua fazenda, o animal deve receber todos os cuidados para chegar preparado para o dia do rodeio.
Seu condicionamento físico é o mais importante. O animal tem um tratamento todo especial, deve correr pelo pasto e nadar em piscinas. Ele recebe também cuidados para a saúde, é necessário uma alimentação balanceada e também medicamentos visando evitar a proliferação de vermes e carrapatos.
O importante é que o animal tenha essa capacidade de participar de provas de rodeio, o touro e o cavalo precisam saber pular, caso contrário já são descartados, antes mesmo de iniciarem os treinamentos. Um animal começa sua carreira em rodeios menores, onde os peões são mais fracos, assim eles vão se adaptando, e com o passar dos anos e com os resultados, o bicho vai evoluindo e passa a competir em grandes rodeios com os peões mais renomados. Não existe satisfação maior para um tropeiro de ver seu animal derrubar um peão super consagrado.
O rodeio é um assunto que causa muita polêmica, e a preocupação geral é em relação ao bem estar dos animais. Há quem diga que é uma crueldade com os bichos as provas, mas existem também os que defendem, dizendo que se ocorressem maus-tratos, a competição não existiria a tanto tempo. Uma das maiores polêmicas nesse meio é o uso do sedém, uma tira de lã de carneiro amarrada no animal, momentos antes da sua apresentação.
Flávio Junqueira defende essa prática, dizendo que o sedém tem a mesma função de uma rédea, regula e define como será o pulo do animal. Ele conta também que é impossível amarrar qualquer coisa na virilha de qualquer touro ou cavalo. “A pessoa que tentar isso certamente levará um coice”, diz. Flávio complementa dizendo que o pulo nada mais é do que um sinal de explosão física do animal.
O tropeiro Flávio Junqueira

Para o DJ Gabriel Rocha, membro da sociedade protetora dos animais e contra a prática do rodeio, não é apenas o sedém que causa dor. Para ele, os animais são submetidos todo o tempo a situações estressantes, como o confinamento, o transporte, as luzes e o barulho, alem disso, há outros estímulos, como seu treinamento feito a base de violência. “Um bicho nunca vai ser tão violento quanto nos rodeios se não for estimulado para a agressão. É como um cão que é treinado para atacar”.
Gabriel ainda diz que o comportamento animal nesse tipo de apresentação pode ser entendido como um reflexo de tentativa de fuga e que é visível o estado do bicho. “Eles ficam com as pupilas dilatadas e muitas vezes até evacuam e urinam de tanto medo”. Para Gabriel, o rodeio está longe de ser considerado esporte ou cultura, pois nem é tradição no Brasil, ele ainda acha uma hipocrisia o fato de se pedir ajuda a santos cristãos em um ritual de tortura.
Vale lembrar que no ano de 2001 foi instituída uma lei que considera o peão de boiadeiro um atleta profissional. Porém já existe uma legislação que é contra o uso dos animais nas apresentações de rodeio. O deputado Ricardo Trípoli, autor do código, diz que não é contra a festa do rodeio com shows musicais e apresentações culturais, a lei apenas impede todo tipo de mecanismo que provoque o sofrimento animal.
“Onde não houver maus-tratos aos animais, os rodeios poderão acontecer com exposição dos animais e os shows sertanejos” diz o deputado que teve como estímulo na criação da lei a falta de uma legislação específica e a melhoria da qualidade da fauna. Em uma reportagem da Folha de São Paulo foi ouvido o diretor do rodeio da Festa de Peão de Barretos. Para Marcos Abud, o sedém é um acessório que gera apenas cócegas, fazendo com que o animal de saltos mais velozes. “Não é verdade que o sedém machuca ou aperta os testículos”.
Um argumento muito utilizado por quem defende o esporte, é de que os animais que fazem parte da festa recebem tratamento diferenciado durante as competições, com auxílio de médicos, veterinários e nutricionistas. A festa também ajuda a promover a cultura do homem do campo, que está cada vez mais esquecida com o crescimento da metrópole, e os fatos do cotidiano de um trabalhador rural como o laço em bezerro são transformados em competições.
Essa prova do laço em bezerro é outra que gera muita polêmica, já que o peão laça o bezerro pelo chifre e outro peão o laça pelos pés, deixando-o imobilizado. Nessa prova deve se utilizar bezerros com mais de oito meses de vida e com um peso acima de 100 kg. Muitas pessoas condenam esse tipo de prova e afirmam que em alguns rodeios são utilizados bezerros com apenas 40 dias de vida e que mesmo nos bezerros mais formados pode ocorrer dele sofrer algum traumatismo com as pancadas e criar uma sensação de pânico nele. Além da prova do laço do bezerro e do uso do sedém, esse pessoal contra o rodeio condena outros materiais, como as esporas, que podem prejudicar o animal.

A polêmica prova do Laço em Bezerro

As esporas acopladas a bota do peão são usadas para o animal pular mais, já que ele recebe golpes de espora na barriga no pescoço e na cabeça, e quanto mais golpes o animal recebe, mais pontos são contabilizados para os peão, muitos dizem que a prova acaba sendo um estímulo para que se machuque mais ainda os animais. Porém, diz a regra de qualquer rodeio profissional que as esporas devem ser arredondadas, para não causar ferimentos ao bicho.

Modelo de espora

O rodeio, principalmente no ano de 2005 passou a ter muito mais evidência. Além de ser o ano de comemoração dos 50 anos da festa de Barretos, a novela “América” tem um núcleo com personagens do campo, essa novela acabou se tornando um sucesso de audiência. Coincidentemente ou não, foi a partir daí que o assunto ganhou destaque na mídia em geral, virou moda debater sobre a prática do esporte e cada vez mais pessoas famosas vem aderindo esse movimento contra rodeios.
A cantora Rita Lee é uma das que mais critica, ela vai com freqüência em veículos de comunicação falar mal da prática do esporte e se não bastasse isso ainda vem comprando briga com o pessoal do meio. Um dos mais revoltados foi o cantor Zezé di Camargo, que em matéria publicada na Folha de São Paulo convidou a cantora a freqüentar um rodeio junto com a presença de um veterinário. Rita rebateu dizendo que se Zezé vai aos rodeios há tanto tempo e conhece os abusos, ela sente muito pela ignorância espiritual do músico.
“Se Zezé freqüenta os rodeios, pior para ele, eu odeio rodeio” disse Rita. Vale lembrar que a cantora afirma ter um material e imagens comprovando os maus-tratos, porém ela nunca pisou na areia de um rodeio, já Zezé é freqüentador assíduo das provas, além de levantar multidões com seus shows.

A cantora Rita Lee abomina rodeios

O cantor Chico César é outro que vem levantando uma bandeira negativa contra o esporte, escreveu uma música chamada “Eu Odeio Rodeio”, onde ele faz um pesado desabafo contra essa cultura texana, como ele mesmo se refere em sua composição. Por fim tem a apresentadora Luisa Mell, que em seu programa destaca diversas vezes o sofrimento animal em provas de rodeio. Para o tropeiro Flávio Junqueira trata-se de demagogia.“Eles fazem isso para aparecerem na televisão”.

Luisa Mell, a defensora dos animais

O presidente da PRT André Metzer condena alguns rodeios. “Nem todo rodeio é igual a Jaguariúna ou Americana. Muitas cidades compram uma boiada ruim, e fazem do rodeio apenas um pano de fundo para os grandes shows”. Mas ele não acredita que esses animais são mal-tratados. “Um animal de rodeio é muito valorizado, envolve muito dinheiro, e eles acabam recebendo um tratamento especial”, diz o presidente que complementa dizendo que normalmente o rodeio é uma tabua de salvação na vida do touro, já que a grande maioria tem sempre o mesmo destino, o frigorífico.
O responsável pelo desenvolvimento do rodeio em touros no país, o juiz Tião Procópio acha que essas pessoas que vem a público falar dos maus-tratos aos animais não têm conhecimento sobre o universo dos rodeios e do que ele trás de bom para as cidades sedes. “Se soubessem como tudo funciona, teriam outra opinião”, diz. Tião afirma que cada dono de touro tem o maior amor e carinho por seus animais, não admitem que eles se machuquem e tentam dar a melhor assistência veterinária e nutricionista possível. “O touro é o bichinho de estimação do tropeiro”.
Um bom exemplo disso foi quando Paulo Emílio, dono do touro Bandido, chiou muito ao ver que o peão Ednei Caminhas estava usando uma espora pontiaguda para desafiar o boi. Mas existe todo um regulamento que proíbe o uso de esporas com pontas finas, já que a intenção de um rodeio profissional não é machucar o animal, isso está fora de cogitação, o intuito é de promover uma grande festa.

Barretesão - 50 anos


Meio século de festa


Não é à toa que o rodeio de Barretos é considerado o maior do Brasil. Por trás das estrelas da festa, existem os organizadores, um competente grupo que a cada ano investe mais no evento, justificando o atual status que tem a cidade de Barretos. Esse grupo se chama “Os Independentes”, e foi criado no dia 15 de julho de 1955.

Flâmula dos Independentes - 1955
Era um grupo de rapazes solteiros e ligados à atividade pecuária local, que fundou o clube com o intuito de promover festas inspiradas nos trabalhos de fazenda. O grande objetivo era arrecadar fundos para entidades assistenciais da região. O nome “Independentes” vem justamente pelo fato dos membros do clube serem solteiros e com boa situação financeira. Antigamente quem casasse era retirado do clube, mas os tempos passaram e hoje muitos membros do clube já subiram ao altar.
Antônio Renan Prata, primeiro presidente do clube

A primeira Festa do Peão Boiadeiro de Barretos aconteceu em agosto de 1956, um ano depois da fundação do clube. O evento ainda não era realizado no Parque do Peão, na primeira ocasião aconteceu sob uma lona de circo e durou apenas dois dias Este foi o modelo adotado e padronizado para a festa rural de maior sucesso do país. A partir disso, todas as festas passaram a ser realizadas no mês de agosto, junto com o aniversário da cidade de Barretos.
Mas a Festa de Peão Boiadeiro não foi o primeiro rodeio realizado na cidade. Em 1947 foi produzido um evento do gênero. O primeiro no Brasil, organizado pela Prefeitura Municipal para entreter a população, nessa época um par de botas, ou um chapéu eram os prêmios dos vencedores do rodeio, mas o que valia era o esporte, a competição e a paixão desses peões pela montaria e tudo que acontecia nos eventos de Barretos servia de modelo para outros rodeios realizados em territórios brasileiros.
Na década de 60 já havia muitos rodeios no Brasil. Eles aconteciam em diversas cidades, mas a grande maioria era dentro do estado de São Paulo. Os peões se tornaram competidores e corriam de uma festa para outra atrás de prêmios. Porém era em Barretos que todos tentavam a chamada sorte grande. Nos anos 60, a Festa de Peão Boiadeiro de Barretos possuía fama em todo Brasil e atraía gente de todo o país. Contava ainda com a participação de peões de outros países da América do Sul, como Argentina Uruguai e Paraguai.
Em 1964, através de um Decreto Estadual, a festa foi declarada de “utilidade pública”, já que a movimentação financeira passou a atuar de forma vital para o município. Em 1967, o clube adquiriu um casarão no centro da cidade para servir como sede administrativa. Na 17ª Festa de Peão, no ano de 1972, acontece a primeira visita de um presidente da república no evento. Emilío Garrastazu Médice, o presidente do país daquela época, foi prestigiar a cidade e atividade ascendente. Ainda nos anos 70, surgiu o concurso para a escolha de rainha.
Na década de 80, o traje dos peões sofreram mudanças. O cinturão de couro, a bota de cano longo e o lenço usado no pescoço deram lugar ao jeans justo no corpo e o cinto de couro com fivela larga, uma influência norte-americana. Em 1980, o clube compra um terreno de 40 alqueires. Eles já planejavam a construção do Parque do Peão, pois, devido ao grande sucesso de público, o espaço estava ficando pequeno. Ainda nos anos oitenta, mais precisamente em 1985, ele foi instalado. Já em 1989 foi inaugurado o Estádio de Rodeios com capacidade para 35 mil pessoas. Projetado por Oscar Niemeyer, o estádio com formato oval foi construído para ser o palco das montarias.

Estádio de Barretos, projeto de Oscar Niemeyer

Em 1994 acontece o primeiro evento internacional. Ele contou com a presença de competidores dos Estados Unidos Canadá e Austrália. Barretos sediou uma das etapas do Professional Bull Riders, onde o vencedor disputa a final em Las Vegas com os melhores profissionais de rodeio do mundo. Nos anos 90 as festas estavam cada vez mais animadas com a realização de grandes shows. Os que mais atraíram público foi o show “Amigos”, com Zezé di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo; Leonardo e Chitãozinho & Xororó, consideradas as duplas sertanejas top do momento e também as apresentações de artistas internacionais, como Garth Brooks, Alan Jackson e Reba McEntire, fenômenos da música country norte-americana.

Garth Brooks agitando o público em Barretos
Em 1996, o clube compra mais dez alqueires para serem incorporados à área do Parque do Peão. No século XXI, a transformação de maior relevância acontece em 2002, quando o presidente da República Fernando Henrique Cardoso sanciona uma lei em que o peão de rodeio é considerado um atleta profissional. Em 2005 uma surpresa. Uma estátua de 27 metros de altura homenageia a maior personalidade da festa, o peão de boiadeiro. Para marcar os cinqüenta anos de sucesso, os organizadores do evento apostaram nessa linda obra de arte.


O Parque do Peão

Eu sendo carregado logo na entrada do Parque

Para o rodeio de 2005, ano em que se comemorava os 50 anos da festa, foi investida a quantia exorbitante de 10 milhões de reais. O evento conseguiu trazer um retorno de 13 milhões de reais durante os 18 dias de festa, levando 950 mil pessoas nas dependências do parque do peão.
O parque do peão é uma área de 1 milhão e 200 mil m², construída no ano de 1985. Situado à beira da estrada Brigadeiro Faria Lima, o parque fica a cinco quilômetros da zona urbana de Barretos e conta com 12 ranchos particulares. O parque chama a atenção pelo seu tamanho e pela sua estrutura, lembrando muito um parque de diversão norte-americano, mas tem estilo rural, nele se encontra brinquedos como montanha-russa e roda-gigante.
Opções de comida também não faltam, se encontrando desde pratos culinários típicos do interior, como arroz de carreteiro e vaca atolada, comidas exóticas, caso de tira-gosto de testículo de boi, ou até da cozinha internacional. São 120 lanchonetes e restaurantes espalhados pelo parque, que conta também com espaço para comitivas se reuniram, além de um setor especial para a imprensa.
Quem quiser fazer compras não precisa se deslocar para a cidade, já que o parque possui um supermercado Compre Bem de 450 m².

Supermercado em pleno Parque do Peão

Para as pessoas que não conseguiram pousadas ou hotéis, o parque oferece um espaço de camping, que conta com um belo lago artificial e abriga um total de 10 mil pessoas.
As pessoas que vão de carro não precisam se preocupar, um estacionamento, com capacidade para 80 mil carros, garante a tranqüilidade do motorista. Existe também um espaço especial dedicado aos ônibus de excursão, o lugar tem capacidade para um pouco mais de mil ônibus. Telefones públicos também são disponibilizados em todas as ruas do parque, que suporta até seis mil ligações de celular simultâneas.
O parque conta com 330 banheiros públicos, sendo que dez eram especiais para deficientes físicos. Para aquele pessoal que exagerou nas bebidas, ou comeu demais, esses poderiam se encaminhar para um posto médico da Unimep, com infra-estrutura até para realizar pequenas cirurgias. Um posto dentário também estava disponível para quem tivesse dor de dente.
A produção dos 50 anos de festa também parecia coisa do primeiro mundo. A forte iluminação e o sistema de som chamam a atenção, não devendo nada para o carnaval do Rio de Janeiro na Sapucaí. Outra coisa que impressionou foi o número de helicópteros, oito no total, e os belos balões dirigíveis, cinco no total.
Fora isso, o parque conta com um estádio com capacidade para 35 mil pessoas sentadas. É muito importante o conforto do telespectador, já que as montarias duram em média 5 horas. O estádio de Barretos foi projetado por Oscar Niemeyer em um formato oval e é o maior estádio de rodeios do Brasil.
Cada festa de peão em Barretos tem uma história diferente, e ela pode ser conferida no memorial do peão, uma área de 1600 m² com um acervo histórico dos rodeios.
Para as crianças existe o Rancho do Peãozinho, que conta com um espaço exclusivo para quem tem até 12 anos. Lá acontecem atividades culturais, educacionais e ecológicas. Há também uma pequena área de rodeios com bezerros e carneiros, onde a criança entra em contato com as montarias. Esse espaço reservado para as crianças, é fundamental para elas conhecerem o universo dos rodeios e a cultura desse meio. Há ainda no local uma mini-fazenda com pequenos animais e riacho.
O Rancho do peãozinho conta com uma área de 25 mil m² e a grande maioria das crianças que o visitam são de escolas da região. Vale lembrar que quem for a Barretos fora da época da festa, pode visitar o parque a vontade, já que este fica aberto também nos outros dias do ano.

Atividades no Rancho do Peãozinho

Investidores

Para o evento de 2005, foram contratados 700 animais para serem montados durante as competições. O rodeio de Barretos ofereceu uma bela premiação aos seus vencedores. No total foram distribuídos 500 mil reais em prêmios, sendo que 160 mil foi dado ao grande campeão do rodeio internacional em touros.
Se somarmos os valores arrecadados de todas as festas de rodeio que ocorrem pelo país, chegaremos a uma impressionante marca de 2 bilhões de dólares. Ou seja, essa indústria do rodeio merece muito respeito e a grande tendência é de um crescimento ainda maior.
Diversas companhias patrocinam a festa de Barretos, visando um retorno futuro. Empresas como Brahma, Bayern, Compre Bem, Souza Cruz, Chevrolet, entre outras, promovem diversos eventos e montam ranchos para recepcionar os clientes. Com a exibição da novela América em 2005, as cotas foram fechadas rapidamente, três meses antes do início do evento.
Fora isso, a festa que passou a ter três finais de semana, totalizando 18 dias, 87 grupos musicais animaram o público presente no parque do peão, totalizando 120 shows.
Só a Brahma, considerada a cerveja oficial do rodeio, disponibilizou 2 milhões de latinhas de cerveja, há 29 anos ela patrocina o evento, sendo que cria latinhas temáticas, com o desenho da festa estampado. No rodeio de Barretos algumas latas chegavam a custar 3 reais, e chegou um certo momento em que estava difícil encontrar alguma, o consumo foi muito intenso.
Primeira latinha personalizada do Rodeio de Barretos
Existem também aquelas empresas que deixam a marca Barretos estamparem seus produtos. “Foi uma idéia que surgiu do próprio Clube Os Independentes e licenciamos linha de vestuário, copos decorados, molho de tomate, conteúdo para telefone celular, garrafas térmicas, cantis, caixas térmicas, fivelas, chaveiros, bottons de metal e chapéus”, diz Celso Rodrigues, responsável pelo licenciamento dessas marcas. Ele também nos contou que o retorno do investimento superou as expectativas.
Quem também deu bastante suporte para a festa de Barretos foi a Rede Globo, que além da novela América, lançada em 2005, empresta o seu nome para as etapas do Circuito Nacional de Rodeio (CNAR) e transmite os melhores momentos das competições no programa “Esporte Espetacular”. Quem tem dinheiro para pagar pode adquirir o rodeio completo das principais cidades pelo sistema pay-per-view.