segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Barretesão - 50 anos



A primeira vez no Barretão, a gente nunca esquece


Sábado, nove horas da manhã, malas prontas, dia bonito, e emoção a flor da pele, dentro de cinco horas estarei em Barretos assistindo a festa do Peão de Boiadeiro pela primeira vez, justamente quando ela chega em sua 50ª edição.
Eu, e mais dois amigos, Renato Fazzolino e Denise Vidigal, pegamos a Rodovia dos Bandeirantes e partimos de São Paulo em direção a Barretos de carro. Nossa intenção era curtir a festa e ir embora no mesmo dia, já que não conseguimos um lugar para ficar.
Foi uma viagem tranqüila, muita música sertaneja e agitação. Notamos um grande número de automóveis seguindo o mesmo caminho, vários deles com adesivos personalizados da festa, alguns até brincavam com a gente, buzinando, gritando, fazendo a sua graça. Desagradável apenas a quantidade interminável de pedágios, porém as três estradas que pegamos, Bandeirantes, Washington Luís e Brigadeiro Faria Lima, estavam em boas condições, o que fez com que em 4h30 nós já estivéssemos em Barretos.
Na cidade já conseguíamos sentir o clima de festa, pessoas lotavam todos os bares de esquinas e outros do lado de fora de suas casas se refrescando de todas as maneiras. Encontramos até uma galera que improvisou uma piscina de plástico na calçada em frente a casa que alugaram e estavam dentro da água de roupa mesmo. E nesse clima alegre e descontraído que começava nossa jornada em Barretos.
Mas precisávamos comer alguma coisa, já eram 14 horas e queríamos almoçar bem, para poder agüentar toda a festa depois. Eu particularmente estava louco para comer a picanha e o chocolamour do Bar Bosa, local tradicional da cidade, mas não lembrava onde era. O jeito foi perguntar para os moradores onde ficava o local.
O primeiro abordado disse que o bar ficava na rua 14, ele explicou tudo direitinho, nos ensinando a chegar lá. Foi aí que percebemos que as ruas da cidade de Barretos não tinham nomes, eram todas numéricas, o que facilitaria o trajeto e diminuía o medo de se perder na cidade. As avenidas tinham números ímpares e as ruas paralelas a elas tinham os números pares.
Assim, conseguimos chegar no Bar Bosa, mas, para minha decepção, o restaurante estava fechado. Não me desesperei, pois conhecia um restaurante tão bom quanto ele, que se chamava Jobim. Abordei um motoqueiro e ele não nos ensinou como se chegava no lugar, mas falou que o restaurante tinha mudado de nome, agora ele se chamava Village.
Momentos depois uma senhora simpática veio conversar comigo, chamava-se Maria Aparecida Pereira Vianna, tinha 71 anos e era moradora da cidade. Disse que em dias de festa, Barretos se torna um caos, fazendo a polícia tomar bruscas providências para conter os ânimos dos mais exaltados. O papo estava bom, mas a fome era grande.
Paramos em frente a uma casa para perguntar onde era o Village. A mulher que nos atendeu tentou explicar, mas não tinha certeza. Nós agradecemos, mas ela disse que ia pedir pro irmão dela vir explicar para gente. Saiu do terraço, entrou na casa, deixou a porta aberta e foi chamar o irmão. Este, muito simpático, nos explicou direitinho como chegar ao local. Em pouco tempo de Barretos deu para perceber que os moradores são muito educados e hospitaleiros com os turistas.
Finalmente chegamos ao restaurante, que estava muito vazio. Pedimos logo uma cerveja e um apetitoso filé a parmegiana, que veio em uma porção muito honesta. Ficamos horas lá dentro e no final fomos ao carro, pegamos nosso kit-beleza, com gel e escova de dente, e nos dirigimos ao banheiro do estabelecimento. Através do espelho, eu percebi que meu braço esquerdo já estava todo vermelho de queimado, resultado do sol que fez durante a viagem inteira.
No segundo final de semana, almoçamos em uma pizzaria do lado do Village, onde também fomos super bem tratados e quando um dos garçons percebeu que todos estavam indo ao banheiro e voltando todo arrumadinho, prometeu em uma próxima ocasião oferecer a casa dele para tomarmos banho e se arrumar direito, mostrando mais uma vez toda a hospitalidade do povo barretense.
Voltando ao primeiro final de semana, saímos do Village a caminho do Parque do Peão, para se chegar lá teríamos que pegar a avenida 43. Quando chegamos na avenida, vimos que o trânsito estava carregado, mas diferente de um congestionamento em São Paulo, esse dava gosto. Pessoas cantando, dançando, bebendo e mulheres lindas nas pick-ups, era um clima de animação. Parecia um carnaval fora de época. Uma das músicas que animavam a galera chamou a atenção da gente, os versos dela diziam “para tudo, para tudo, para tudo, para tudo”. Era a canção mais executada na cidade, todo lugar que a gente ia, tinha alguém escutando essa música do DJ Filé.
Resolvemos então seguir os conselhos da música. Decidimos parar o carro e participar um pouquinho dessa festa. Fomos a pé em uma loja chamada Barretesão que vendia roupas e acessórios no estilo country. Resolvi comprar uma camiseta temática, com a estampa do boi Bandido. Só não comprei um chapéu por falta de dinheiro, mas de qualquer jeito já me sentia no clima de uma festa de rodeio.
Meus outros amigos também compraram roupas lá. Denise queria poder experimentar uma blusa antes de comprá-la, uma das funcionárias da loja falou que podia, mas não indicou onde era o provador. Depois ela disse que algumas meninas tiravam a roupa na frente de todo mundo mesmo, sem se importar. Denise acabou comprando a blusa mesmo sem experimentar.
Após as compras, voltamos ao carro, pegamos a estrada de novo, rodamos três quilômetros e finalmente chegamos no Parque do Peão. Nessa hora o coração disparou: é incrível. Já tinha ido a outros rodeios e meu grande sonho era um dia pisar no Parque do Peão de Barretos, realmente era um negócio de outro mundo. Perto de Barretos os outros rodeios eram como um formigueiro comparado a uma fazenda.
Parei o carro no estacionamento e fui encontrar meus outros amigos. Estava um calor enorme, avistei minha amiga Daniela deitada no gramado tomando sol e meus parceiros Rodrigo e Paulo sentados do lado de fora de um restaurante bebendo.


Que Festa Louca


Finalmente estávamos todos juntos. Tiramos fotos para registrar o momento e fomos comprar os ingressos.


Rodrigo, Paulo, Daniela e eu, calouros no Barretesão

No primeiro final de semana a fila estava tranqüila. Já nos outros, a procura era intensa, causando trânsito dentro do imenso parque, mas o pessoal não desanimava.
Logo ao entrar no parque avistamos uma estátua gigante de 27 metros de altura, que eterniza a estrela das festas de rodeios, o peão e seu chapéu na cabeça.


Jeromão, a estátua de 27 metros de altura dá boa vinda a todos


Em seguida vimos diversos bois, um deles chegava a ter dois metros de altura, seu peso era de 1,5 tonelada e qualquer um podia montar neles (eram mansos) e tirar fotos pagando o valor de 4 reais.
Havia milhares de barracas com inúmeras opções para comer: crepe, churros, pastel, cachorro quente, churrasco. O comércio pegava fogo, alem de alimentação tinha lojas de chapéus e roupas típicas e diversos stands de patrocinadores da festa.
Como estava quase na hora do início das competições, nos informamos aonde seria a arena e subimos uma enorme rampa de acesso ao estádio onde demos de cara com uma vista impressionante: a arena vazia. Aos poucos, o publico foi chegando e se acomodando nas arquibancadas para assistir as competições.
A competição dos três tambores animou o público presente, com excelentes competidoras galopando com seus rápidos cavalos quarto de milha.
A atração seguinte era curtida por crianças que montavam em carneiros e divertiam a platéia com tamanha habilidade demonstrada.
Veio então um dos momentos mais aguardados em uma festa de peão: a montaria em touros. Diversos peões tentavam uns com sucesso, outros sem, conseguir permanecer durante oito segundos em cima de bois bravos e fortes.
Houve até a gravação de cenas para a novela América. Atores como Murilo Rosa, Matheus Nachtergale e Murilo Benício levantaram o público. O destrambelhado peão Carreirinha, personagem vivido por Nachtergale na trama, foi o mais aplaudido.

Murilo Rosa esteve presente na festa


Por fim, entrou na arena a rainha do rodeio de Barretos, Juliana Rezende, em uma pick-up desfilando e acenando. Juntamente a isso, houve uma prova de exibição, onde motoristas dirigiam as camionetes e os laçadores que ficavam na caçamba tinham que laçar bezerros de madeira com o automóvel em movimento. Os carros derrapando levantaram muita poeira, levando boa parte do pessoal à loucura.
Terminada as competições e apresentações, ainda restava as apresentações musicais. Os principais shows são realizados no estádio de rodeio, mas a música está presente em todo o parque do peão, em seus diferentes palcos.
Restava apenas para o público aguardar os portões da arena se abrirem, dando assim a opção de assistir as apresentações musicais em pé no meio da multidão, sentindo toda a energia do show ou sentado confortavelmente nas arquibancadas do estádio de Barretos.


Está chegando a hora do show começar


As portas se abrem, o público desce para a arena, a sensação de pisar na areia fofa de Barretos é boa. Saímos correndo e conseguimos um lugar na frente. A arena estava cheia, mas ainda com espaços que iam sendo preenchidos conforme se aproximava à hora do show.
Músicas começam a tocar, um DJ solta sons com trechos de músicas da moda, seja rock, dance ou sertanejo.
Após meia hora nesse embalo era anunciado o show de Edson & Hudson, a primeira atração musical da noite. Eles já apareciam no telão e, depois de uma rápida entrevista, surgem no palco para a alegria do público.
O espetáculo começa, a galera canta todas as músicas, Edson conta piadas, Hudson mostra o poder de sua guitarra. Um show perfeito.
Durante todo o show, diversas bolas gigantes portando o nome dos patrocinadores do evento faziam a alegria da galera, as bolas rodavam a arena inteira, e todos queriam dar umas rebatidas nelas. Já no fim, os cantores emocionaram o público ao anunciarem a doação do cachê de 45 mil reais para o Hospital do Câncer da Fundação Pio XII, localizado em Barretos. O cheque foi entregue nas mãos do diretor financeiro da instituição, Henrique Prata.


Henrique Prata, dono do Hospital do Câncer de Barretos


Depois da apresentação não há tempo pra descanso, pois sobe ao palco o grupo Jota Quest, para fechar a noite de shows. O público continua animado, o rock da banda mineira não deixa ninguém parado. Era nítida a satisfação das pessoas que estavam na arena ou nas arquibancadas.
Já no segundo final de semana, o movimento foi mais intenso já que havia três shows grandiosos com artistas consagrados na musica popular brasileira. Era um empurra-empurra na entrada do estádio, a ponto de algumas pessoas ficarem indignadas com tamanha confusão. Thiago Ferreira, 24 anos, era um dos poucos desanimados com o evento. "Me cansei nessa confusão e talvez nem tenho mais pique para tanta agitação".
Exemplo de arena completamente lotada

Quando conseguimos entrar na arquibancada, o show do Chiclete com Banana já estava na metade. Um dos que conseguiu assistir o espetáculo inteiro foi Fausto Ragazoni, 25 anos, morador de Ipuã (SP), cidade próxima a Barretos. Para ele o show foi fantástico e conseguiu animar a todos. “Por isso que não tem mais abadá para o bloco deles no carnaval de Salvador, os caras são feras mesmo” conta o jovem, freqüentador da festa desde 1995.
Terminado o show do Chiclete com Banana e intermináveis 40 minutos só para descer da parte de cima da arquibancada para a arena, finalmente conseguimos pisar em na areia, foi uma sensação de alívio, as arquibancadas estavam cheias, dificultando a locomoção.
Momentos depois, entra no palco Zezé di Camargo & Luciano, o público vibra muito, eles cantam músicas alegres que fazem o pessoal pular, mas têm também as mais românticas, boas para se dançar coladinho. Foi um belo espetáculo, com tantas músicas de sucesso, um show de uma hora acaba sendo muito pouco.
Mas a noite ainda estava longe de terminar, faltava Ivete Sangalo fazer a sua festa com a galera de Barretos.
Ivete Sangalo, exuberante como sempre

Ivete entrou no palco exuberante, porém, houve alguns comentários de algumas meninas como Vanessa Correia de 27 anos, que veio de São Paulo para assistir os shows, que achavam sua vestimenta brega pelo fato de ela estar usando vestido com tênis. Mas que valeu foi o show, Ivete cantou todas as músicas de seu repleto repertório. A sensação que tínhamos era de estar em um dos seus blocos de carnaval em Salvador.
A cantora ainda fez um alerta para os fumantes e os malefícios que o tabaco pode trazer. As palavras dela fizeram boa parte da galera apagar os seus cigarros.
. “Os shows do Chiclete e da Ivete estavam superanimados, não tinha como ficar parado” conta a mineira Nara Meneses, 20 anos de Ouro Preto (MG). Apesar disso, a jovem acha que Barretos não pode perder a tradição dos sertanejos.
Terminado os shows na arena, a galera se espalhava pelo Parque do Peão, onde tinha diversas opções de diversão. Para os que tinham fome, e eram muitos, o jeito foi enfrentar as filas nas barracas de comes e bebes. Nessas barracas encontramos novamente o estudante Thiago Ferreira, aquele mesmo que estava descontente. Mas desta vez era nítido o sorriso estampado em seu rosto. Ele tinha sido “laçado” por bela cowgirl e nos contou: "Nada como uma bela mulher e cerveja para levantar o astral. Barretos é muito show", disse.
Para os que ainda estavam dispostos e animados, tinha o Berrantão, um espaço coberto de 1800 m², onde algumas bandas fizeram apresentações, animando o pessoal que veio dos quatro cantos do país prestigiar o evento.
Joice Guimarães era uma das mais empolgadas. “Vim de Florianópolis só para curtir a festa de peão”, conta a jovem de 23 anos. Ela veio de ônibus com um pessoal de Santa Catarina e se hospedou em uma pousada na cidade de Ribeirão Preto. De lá, mais uma viagem de mais de 100 quilômetros de ônibus até Barretos. “Já estou craque em baralho e dominó”, diz Joice, que explicava como se distrair com tantas horas de viagem.
Eu e Joice curtindo a festa no Berrantão

Fora a animação do Berrantão com seus musicais, tinha o palco Natu Nobilis, dedicado apenas à música country e sertaneja. Já no Bar Brahma e na Tenda Hollywood, o som era eletrônico, e o pessoal presente a Barretos curtiu a “balada” até altas horas da madrugada.
Uma das festas mais tradicionais de Barretos é a Festa do Patrão, acontecendo sempre no último final de semana. A festa ganhou fama por ser o ponto de encontro de uma galera bonita e disposta a se divertir. O ingresso não é barato, custa cerca de 200 reais, mas quem compra tem direito a beber e comer a vontade à noite inteira.
Ou seja, uma festa de peão tem inúmeras opções de entretenimento, e não importa idade, classe social ou gostos musicais. O que interessa é que a diversão é garantida.


















Um comentário:

Unknown disse...

essas fotos sao 100%!!