terça-feira, 28 de agosto de 2007

Animais: os reis da festa

Polêmica no ar

Para se fazer um rodeio de qualidade, é necessário que os animais sejam bem tratados, é preciso que ele chegue bonito e robusto, já que eles também são os astros da festa. Em sua fazenda, o animal deve receber todos os cuidados para chegar preparado para o dia do rodeio.
Seu condicionamento físico é o mais importante. O animal tem um tratamento todo especial, deve correr pelo pasto e nadar em piscinas. Ele recebe também cuidados para a saúde, é necessário uma alimentação balanceada e também medicamentos visando evitar a proliferação de vermes e carrapatos.
O importante é que o animal tenha essa capacidade de participar de provas de rodeio, o touro e o cavalo precisam saber pular, caso contrário já são descartados, antes mesmo de iniciarem os treinamentos. Um animal começa sua carreira em rodeios menores, onde os peões são mais fracos, assim eles vão se adaptando, e com o passar dos anos e com os resultados, o bicho vai evoluindo e passa a competir em grandes rodeios com os peões mais renomados. Não existe satisfação maior para um tropeiro de ver seu animal derrubar um peão super consagrado.
O rodeio é um assunto que causa muita polêmica, e a preocupação geral é em relação ao bem estar dos animais. Há quem diga que é uma crueldade com os bichos as provas, mas existem também os que defendem, dizendo que se ocorressem maus-tratos, a competição não existiria a tanto tempo. Uma das maiores polêmicas nesse meio é o uso do sedém, uma tira de lã de carneiro amarrada no animal, momentos antes da sua apresentação.
Flávio Junqueira defende essa prática, dizendo que o sedém tem a mesma função de uma rédea, regula e define como será o pulo do animal. Ele conta também que é impossível amarrar qualquer coisa na virilha de qualquer touro ou cavalo. “A pessoa que tentar isso certamente levará um coice”, diz. Flávio complementa dizendo que o pulo nada mais é do que um sinal de explosão física do animal.
O tropeiro Flávio Junqueira

Para o DJ Gabriel Rocha, membro da sociedade protetora dos animais e contra a prática do rodeio, não é apenas o sedém que causa dor. Para ele, os animais são submetidos todo o tempo a situações estressantes, como o confinamento, o transporte, as luzes e o barulho, alem disso, há outros estímulos, como seu treinamento feito a base de violência. “Um bicho nunca vai ser tão violento quanto nos rodeios se não for estimulado para a agressão. É como um cão que é treinado para atacar”.
Gabriel ainda diz que o comportamento animal nesse tipo de apresentação pode ser entendido como um reflexo de tentativa de fuga e que é visível o estado do bicho. “Eles ficam com as pupilas dilatadas e muitas vezes até evacuam e urinam de tanto medo”. Para Gabriel, o rodeio está longe de ser considerado esporte ou cultura, pois nem é tradição no Brasil, ele ainda acha uma hipocrisia o fato de se pedir ajuda a santos cristãos em um ritual de tortura.
Vale lembrar que no ano de 2001 foi instituída uma lei que considera o peão de boiadeiro um atleta profissional. Porém já existe uma legislação que é contra o uso dos animais nas apresentações de rodeio. O deputado Ricardo Trípoli, autor do código, diz que não é contra a festa do rodeio com shows musicais e apresentações culturais, a lei apenas impede todo tipo de mecanismo que provoque o sofrimento animal.
“Onde não houver maus-tratos aos animais, os rodeios poderão acontecer com exposição dos animais e os shows sertanejos” diz o deputado que teve como estímulo na criação da lei a falta de uma legislação específica e a melhoria da qualidade da fauna. Em uma reportagem da Folha de São Paulo foi ouvido o diretor do rodeio da Festa de Peão de Barretos. Para Marcos Abud, o sedém é um acessório que gera apenas cócegas, fazendo com que o animal de saltos mais velozes. “Não é verdade que o sedém machuca ou aperta os testículos”.
Um argumento muito utilizado por quem defende o esporte, é de que os animais que fazem parte da festa recebem tratamento diferenciado durante as competições, com auxílio de médicos, veterinários e nutricionistas. A festa também ajuda a promover a cultura do homem do campo, que está cada vez mais esquecida com o crescimento da metrópole, e os fatos do cotidiano de um trabalhador rural como o laço em bezerro são transformados em competições.
Essa prova do laço em bezerro é outra que gera muita polêmica, já que o peão laça o bezerro pelo chifre e outro peão o laça pelos pés, deixando-o imobilizado. Nessa prova deve se utilizar bezerros com mais de oito meses de vida e com um peso acima de 100 kg. Muitas pessoas condenam esse tipo de prova e afirmam que em alguns rodeios são utilizados bezerros com apenas 40 dias de vida e que mesmo nos bezerros mais formados pode ocorrer dele sofrer algum traumatismo com as pancadas e criar uma sensação de pânico nele. Além da prova do laço do bezerro e do uso do sedém, esse pessoal contra o rodeio condena outros materiais, como as esporas, que podem prejudicar o animal.

A polêmica prova do Laço em Bezerro

As esporas acopladas a bota do peão são usadas para o animal pular mais, já que ele recebe golpes de espora na barriga no pescoço e na cabeça, e quanto mais golpes o animal recebe, mais pontos são contabilizados para os peão, muitos dizem que a prova acaba sendo um estímulo para que se machuque mais ainda os animais. Porém, diz a regra de qualquer rodeio profissional que as esporas devem ser arredondadas, para não causar ferimentos ao bicho.

Modelo de espora

O rodeio, principalmente no ano de 2005 passou a ter muito mais evidência. Além de ser o ano de comemoração dos 50 anos da festa de Barretos, a novela “América” tem um núcleo com personagens do campo, essa novela acabou se tornando um sucesso de audiência. Coincidentemente ou não, foi a partir daí que o assunto ganhou destaque na mídia em geral, virou moda debater sobre a prática do esporte e cada vez mais pessoas famosas vem aderindo esse movimento contra rodeios.
A cantora Rita Lee é uma das que mais critica, ela vai com freqüência em veículos de comunicação falar mal da prática do esporte e se não bastasse isso ainda vem comprando briga com o pessoal do meio. Um dos mais revoltados foi o cantor Zezé di Camargo, que em matéria publicada na Folha de São Paulo convidou a cantora a freqüentar um rodeio junto com a presença de um veterinário. Rita rebateu dizendo que se Zezé vai aos rodeios há tanto tempo e conhece os abusos, ela sente muito pela ignorância espiritual do músico.
“Se Zezé freqüenta os rodeios, pior para ele, eu odeio rodeio” disse Rita. Vale lembrar que a cantora afirma ter um material e imagens comprovando os maus-tratos, porém ela nunca pisou na areia de um rodeio, já Zezé é freqüentador assíduo das provas, além de levantar multidões com seus shows.

A cantora Rita Lee abomina rodeios

O cantor Chico César é outro que vem levantando uma bandeira negativa contra o esporte, escreveu uma música chamada “Eu Odeio Rodeio”, onde ele faz um pesado desabafo contra essa cultura texana, como ele mesmo se refere em sua composição. Por fim tem a apresentadora Luisa Mell, que em seu programa destaca diversas vezes o sofrimento animal em provas de rodeio. Para o tropeiro Flávio Junqueira trata-se de demagogia.“Eles fazem isso para aparecerem na televisão”.

Luisa Mell, a defensora dos animais

O presidente da PRT André Metzer condena alguns rodeios. “Nem todo rodeio é igual a Jaguariúna ou Americana. Muitas cidades compram uma boiada ruim, e fazem do rodeio apenas um pano de fundo para os grandes shows”. Mas ele não acredita que esses animais são mal-tratados. “Um animal de rodeio é muito valorizado, envolve muito dinheiro, e eles acabam recebendo um tratamento especial”, diz o presidente que complementa dizendo que normalmente o rodeio é uma tabua de salvação na vida do touro, já que a grande maioria tem sempre o mesmo destino, o frigorífico.
O responsável pelo desenvolvimento do rodeio em touros no país, o juiz Tião Procópio acha que essas pessoas que vem a público falar dos maus-tratos aos animais não têm conhecimento sobre o universo dos rodeios e do que ele trás de bom para as cidades sedes. “Se soubessem como tudo funciona, teriam outra opinião”, diz. Tião afirma que cada dono de touro tem o maior amor e carinho por seus animais, não admitem que eles se machuquem e tentam dar a melhor assistência veterinária e nutricionista possível. “O touro é o bichinho de estimação do tropeiro”.
Um bom exemplo disso foi quando Paulo Emílio, dono do touro Bandido, chiou muito ao ver que o peão Ednei Caminhas estava usando uma espora pontiaguda para desafiar o boi. Mas existe todo um regulamento que proíbe o uso de esporas com pontas finas, já que a intenção de um rodeio profissional não é machucar o animal, isso está fora de cogitação, o intuito é de promover uma grande festa.

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