terça-feira, 28 de agosto de 2007

Panorama de um rodeio


O que é rodeio


Segundo o dicionário Michaelis, a palavra rodeio é definida como uma competição esportiva que consiste em o cavaleiro montar um cavalo ou um boi, não domesticados, e manter-se sobre ele o máximo de tempo.
No entanto, a leitura do verbete é insuficiente para descrevê-lo, afinal se trata de uma descrição teórica. Na prática, se perguntarmos o sentido do rodeio para uma pessoa envolvida no meio ou que o prestigia, a resposta pode surpreender: significa uma vida. E, como toda vida, existem momentos de emoção, alegria, glória, adrenalina, medo, ansiedade, perigo, tensão, dinheiro, música, religião e festa.
Não se pode esquecer que o rodeio é um esporte, existe uma competição envolvida, e é claro que nesse momento, um vai querer ser melhor que o outro. Por ser um esporte individual, poucos terão seus momentos de consagração, a grande maioria volta para casa sabendo que poderia ter feito melhor. Porém essa rivalidade só existe por oito segundos, tempo em que um profissional de montarias tem para dar seu espetáculo, fazer sua apresentação. Fora esses oito segundos, o peão vive o resto do seu tempo cercado por pessoas do bem, e mesmo se tratando de um esporte radical, existe todo um clima festivo em volta dessas provas. E como tudo que uma platéia gosta é de se divertir, de rir, de se emocionar, o rodeio se tornou sinônimo de sucesso, e a cada ano que passa, mais pessoas prestigiam o evento, movimentando mais dinheiro e gerando mais empregos.
No rodeio se encontra de tudo um pouco: comida, bebida, brincadeiras, música, muita animação e gente bonita. Mas o principal mesmo, o que mais chama a atenção, é seu lado esportivo, suas competições. Elas acontecem no “coração” de todo rodeio, é dentro da arena (pista de areia fofa) que tudo esquenta, as emoções ficam a flor da pele, lá que ficam os animais esperando para darem seu show, mostrarem sua força, os competidores que buscam seu ganha-pão e sua consagração, além do público, que sempre comparece em massa e se eletriza com cada disputa. Com tanta emoção e adrenalina, uma festa de rodeio costuma parar a cidade onde é realizada, dando assim, uma boa injeção econômica para elas.
Pegando carona na cultura americana, as competições acabam se tornando um show. Existe todo um preparativo antes de começar a festa, como desfile de animais e apresentação dos patrocinadores. Depois vem um momento de patriotismo com a execução do hino nacional. Logo após, todos os personagens da festa são apresentados, por fim, um momento de devoção e fé, onde peões e salva-vidas de mãos dadas rezam ao som de “Ave-maria”.
Na 50ª festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, em 2005, coube a cantora Iza Mariana a tarefa de cantar a música. “É uma honra estar em Barretos na festa dos 50 anos, porque é um evento que promove o rodeio, um esporte de paixão nacional”, ressaltou a cantora em entrevista ao site dos Independentes, clube que organiza o rodeio de Barretos. Com o início da canção, a imagem de Nossa Senhora da Aparecida entra na arena, emocionando todo o público e o peão aproveita para fazer a sua oração e pedir que nada de mal aconteça nas competições. Nos principais rodeios do Brasil, a imagem da santa é carregada por Pedro Andarilho.
Passado o momento de religiosidade, o locutor começa a agitar a galera contando piadas e fazendo brincadeiras com a platéia, são os últimos preparativos antes do início das provas.



Rodeio tem tudo a ver com nacionalismo



História do Rodeio


No século XIX, após os Estados Unidos vencerem a guerra contra o México, os colonos norte-americanos adotaram os costumes de origem espanhola. O país derrotado, que foi colonizado por espanhóis, tinha influência cultural daquela nação. As touradas são uma das principais características da Espanha. Essa tradição foi introduzida e transformada no México e os Estados Unidos recriaram estas culturas.
Em 1869 aconteceu a primeira prova de montaria na cidade de Colorado. Era uma grande diversão para os vaqueiros. Nas competições eles podiam testar suas habilidades em cima do animal. No início do século XX, o rodeio já era visto como um entretenimento público. Existiam vários eventos no oeste dos Estados Unidos, e as convenções pecuárias eram celebradas.
Durante as primeiras décadas daquele século, lá por volta de 1920, o rodeio já era reconhecido como um esporte competitivo. Havia competições em Boston e na cidade de Nova York que atraiam a atenção em âmbito nacional para este novo esporte. Através da competência e dedicação dos organizadores, o rodeio saltou de esporte para entretenimento público. Esta atividade se tornou na metade do século um grande evento americano.
Até o rodeio chegar ao Brasil, o caminho foi bastante diferente. No início do século XX, já existia a atividade pecuária no interior brasileiro. Os peões que trabalhavam nas fazendas se divertiam ao tentar mostrar suas habilidades em cima dos gados. A cidade de Barretos, que tinha como principal atividade econômica a pecuária, realizou o primeiro rodeio do país em um sábado de 1947. A intenção da prefeitura municipal foi entreter os fazendeiros e os peões locais. É interessante ressaltar que naquela época, início do século passado, os meios de comunicação eram pouco desenvolvidos.
Em 1940 existiam alguns jornais impressos, algumas revistas, e o rádio começava a surgir. Porém os veículos de comunicação daquela época estavam preocupados em integrar o país em escala nacional. O mundo ainda não era globalizado e não se tinha muita informação sobre os outros paises, muito menos sobre sua cultura. Havia bibliotecas também, mas o que pode ter gerado a idéia do rodeio no Brasil foi o cinema. Os filmes norte-americanos rodavam no Brasil desde 1920 e podem ter sido responsáveis pela introdução do rodeio no país.



Provas e Regras


A principal prova de um rodeio, é a montaria em touros. Ela é a que oferece mais perigo aos atletas e conseqüentemente a que atrai mais público. É o duelo entre a coragem, determinação e técnica dos peões, contra a força, a explosão, os músculos e toda a brutalidade do touro.
Momentos antes da prova, o touro fica preso em um cubículo muito pequeno com grades de ferro, chamado de brete. Lá o peão já monta diretamente no lombo do animal, segurando as mãos em apenas uma corda amarrada na parte dianteira do touro. A outra mão fica livre no ar, não podendo ser encostada no animal, nem em qualquer parte do corpo.
Ao abrir a porteira o animal ganha a arena e seu objetivo é se livrar da pessoa que está em cima dele o mais rápido possível, o peão tem toda uma técnica para se manter em cima do boi, que precisa se esforçar para tomba-lo. Ao tentar derrubar o peão um bom touro tem que rodar bastante, inverter seu eixo de rotação (quebrar a paleta) e pular muito sem parar. Um touro em média da 14 pulos durante os oitos segundos. Ao cair no chão, a alternativa que resta ao atleta é tentar se levantar o mais rápido possível e fugir do animal enfurecido.
Apesar dos riscos, a nota final do competidor depende diretamente do touro, não adianta pegar um touro bonzinho, que não pula muito, nesse caso, a nota do peão vai lá para baixo. Vale lembrar que o competidor só recebe pontuação ao ficar os oito segundos em cima do lombo do animal, caso contrário sua nota é zero, o que prejudica muito no seu resultado final. Nessa prova, não é necessário esporear o touro, mas é sempre bom o peão fazer isso, para mostrar aos juízes que ele está tendo total controle sobre o animal.
Mas quem pensa que as provas de rodeio são apenas as montarias em touros está profundamente enganado. Outras oito provas oficiais completam o rodeio. Existem as montarias em cavalos, elas têm um nível de dificuldade menor que nos touros, por ser tratar de um animal mais leve e menos agressivo. São três as modalidades:

Bareback: Prova que teve origem nos Estados Unidos. Nela, o peão tem que ficar oito segundos em cima do cavalo. Essa prova se caracteriza pelo fato do competidor não ter apoio nos pés, já que os estribos não são permitidos, ele tem que ficar agarrado a uma alça de couro posicionada junto à crina do animal. No primeiro pulo o atleta deve posicionar as esporas no pescoço do animal, depois ele puxa as esporas fazendo as pernas alcançaram a alça do “bareback”. O peão fica em uma posição praticamente horizontal. É uma prova que exige força na mão, agilidade no movimento de pernas e muito equilíbrio para esporear o animal de acordo com o sincronismo exigido.
Cutiano: Prova com estilo tipicamente brasileiro de realizar a montaria. O objetivo da prova é ficar oito segundos em cima do cavalo, porém o peão não tem apoio para as mãos no arreio, ele se segura por meio de duas cordas presas na peiteira do animal. O peão deve esporear o animal na região entre a paleta e o pescoço do bicho. Essa prova só é realizada nos rodeios brasileiros e exige muito equilíbrio dos competidores que devem evitar esticar as pernas, pois perderá pontos.


Sela Americana (Saddle Bronc): O peão deve se manter em cima do cavalo no mínimo oito segundos para obter sua nota. Nessa prova o cavalo é arriado com sela. Com uma das mãos o peão segura uma corda de sisal presa ao cabresto, e a outra mão deve ficar livre. No primeiro pulo, o peão posiciona sua espora entre a paleta e o pescoço do cavalo, No segundo pulo puxam-se às esporas da barriga do animal para a parte de trás da sela. É uma das provas mais tradicionais do rodeio, foi criada no ano de 1929 nos EUA.
Além das provas de montaria, existem também as provas cronometradas que exigem do peão velocidade e técnica.
Laço em Dupla (Team Roping): Nesta prova dois competidores devem laçar um bezerro. O laçador cabeceiro tem a tarefa de laçar o pescoço ou o chifre do animal, depois, o laçador peseiro fica com o trabalho de laçar as patas traseiras do animal. O tempo é cronometrado a partir do momento com os peões deixam o box e termina quando um se posiciona na frente do outro com as cordas esticadas. Vence a dupla que realizar a tarefa em menos tempo. A dupla que ultrapassar o tempo limite de dois minutos é desclassificada.

Laço de Bezerro (Calf Roping): Na prova o objetivo do peão é laçar o bezerro em movimento pelo pescoço, depois ele pula do cavalo para amarrar três das quatro patas do animal para que ele fique imobilizado. O tempo é cronometrado assim que o peão deixa o box logo após o bezerro, e termina quando o laçador monta sobre o animal imóvel e levanta as mãos. Ganha o peão que realizar a tarefa no menor tempo e o laçador é desclassificado quando o animal se solta em menos de cinco segundos.

Bulldogging: Nesta prova participam dois peões e um bezerro. Os competidores deixam seu box logo após a partida do bezerro. O peão que fica a direita tem o trabalho de manter o bezerro em uma linha reta, evitando que o animal fuja para o lado, já o outro peão tem um serviço mais complicado, ele salta do cavalo em movimento, agarra a cabeça do bezerro, derrubando-o e virando seu pescoço no chão, dando uma espécie de mata-leão para imobiliza-lo. Sagra-se vencedora a dupla que realizar a tarefa no menor tempo. Caso o tempo limite de 60 segundos seja esgotado, o competidor é desclassificado.


Três Tambores: Uma prova que chama a atenção por ser praticada apenas por mulheres e por unir habilidade com velocidade. Três tambores são colocados na arena a uma distância de mínimo 4 metros entre eles, formando um triângulo. A amazona deve contornar os tambores sem deixa-los cair, podendo apenas toca-los, e voltar em disparada para o ponto de partida. A punição pela queda dos tambores é um acréscimo de cinco segundos por tambor no tempo final. Vence a prova a competidora que realiza-la no menor tempo. O peso da amazona, mais os equipamentos (sela, freia, manta) deve ser de no mínimo 65 kg, para garantir uma igualdade entre as competidoras. Já o cavalo precisa de agilidade e velocidade para contornar os tambores.


Team Penning: Esta prova só foi ser considerada oficial no ano de 2003. Trinta bezerros numerados de 0 a 9 são espalhados em um canto da arena, sendo assim ficam três bezerros para cada número. Três atletas participam da prova, normalmente são membros da mesma família. Montados a cavalo, os peões recebem um número e tem que buscar os bezerros numerados com o número recebido e leva-los para um curral, localizado do outro lado da arena. Ganha a prova quem fizer em menos tempo. Além da dificuldade em ter que levar o animal para o curral é bem complicado conseguir localizar um bezerro no meio de tantos.




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